A mosca que está voando, o cochichar de um colega, o toque do lápis na mão e a voz do professor explicando a matéria: tudo isso tem a mesma intensidade para uma criança com Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade – também conhecido pela sua sigla, TDAH. Segundo a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), este é um dos transtornos com maior incidência entre crianças e adolescentes, com aproximadamente 50 milhões de brasileiros com idades entre 5 e 19 anos diagnosticados – cerca de 2 milhões e meio de pessoas.
No tratamento para esse transtorno neurobiológico o principal medicamento prescrito pelos médicos é a Ritalina, remédio que ajuda a restaurar a atenção, o foco e a concentração. Em 2022 houve uma crescente procura pelo medicamento, fazendo com que ficasse em falta nas prateleiras das farmácias de todo país. De acordo com o G1, as fabricantes Grupo Novartis e a Sandoz do Brasil informaram que de fato houve um atraso na liberação de novos lotes da Ritalina LA por conta da alta demanda no ano passado, mas o abastecimento deve ser feito nos próximos dias.

Por consequência dessa insuficiência, muitas escolas notaram um aumento de sintomas de crianças com TDAH nas salas de aula. Sendo assim, para alunos com esse transtorno o retorno pode não ser tão divertido assim, já que afeta de formas significativa o processo de aprendizagem e os relacionamentos com colegas e professores.
O diagnóstico da condição ocorre por volta dos 7 anos de idade, período em que os alunos estão nos primeiros anos do ensino fundamental I, por isso é importante saber lidar alunos com o transtorno nesse volta às aulas.
Segundo Carolina Rodrigues, psicóloga especializada em Psicologia Escolar e de Desenvolvimento Humano pela USP (Universidade de São Paulo), na escola as crianças com TDAH são distraídas facilmente por estímulos externos, cometem erros causados por desatenção nas provas, não conseguem se organizar com o material escolar ou finalizar tarefas escolares. Às vezes, não conseguem parar quietas na cadeira e levantam o tempo todo.
Como saber se meu filho tem TDAH?
É claro que apenas o médico pode dar o diagnóstico, mas, dentro da escola, o professor é o profissional que mais passa o tempo e acompanha o dia a dia dos alunos. Por isso, a observação dele sobre o comportamento da criança é muito importante para desconfiar do TDAH.
Mas é fundamental que ele tenha conhecimento sobre o transtorno. Quando a hipótese é levantada, a escola deve marcar uma reunião com os pais para conversar sobre o assunto e apresentar o problema. A partir disso, Carolina recomenda que o aluno seja encaminhado para uma avaliação médica completa, que pode ser feita com um neurologista, um psiquiatra ou um neuropsicólogo.
Se o diagnóstico for confirmado, o melhor a fazer, para que não ocorram prejuízos sociais e pedagógicos, é que a escola e os pais trabalhem em conjunto para que a criança tenha a assistência necessária. Ao psicólogo escolar, cabe orientar os professores do colégio sobre o transtorno e como eles podem ajudar os alunos em sala de aula.
Papel de pais e professores
Diversos estudos já mostraram que o déficit de atenção, associado ou não à hiperatividade e à impulsividade, na maioria das vezes compromete o rendimento escolar. Tendo em vista as necessidades de cada criança, esse perfil precisa ser traçado, para que um trabalho personalizado possa ser feito quando esse aluno voltar à sala
de aula.

De acordo com Gabriel Frozi, CEO da escola Recreio Christian School, o primeiro colégio na América Latina voltado ao ensino bilíngue para crianças com TDAH, é necessário estar atento à vida acadêmica dos filhos: “Isso para que haja o estimulo do desenvolvimento, da autoconfiança e do interesse das crianças em aprender. Os pais devem demonstrar total interesse pela vida escolar dos filhos, o que impacta diretamente no dia-a-dia escolar deles”, afirma.
Pensando em facilitar o processo de adaptação dessas crianças no ambiente escolar, Gabriel criou um sistema de ensino que prioriza a participação em sala de aula, o comprometimento com os deveres de casa e a atuação em projetos.
Na escola, há a adoção de métodos e recursos que estimulem a participação e o foco do estudante; a prática e estímulo à repetição; um comando por vez de forma objetiva e clara, além do reforço positivo na construção do aprendizado.
Além disso, é muito importante que seu filho esteja inserido num ambiente saudável, onde possa se desenvolver da melhor maneira possível. E, claro, ter a atenção dos pais é imprescindível para qualquer criança, sempre com muito carinho, amor e cuidado.