Sou filha de vó e vô, criada desde sempre por essas duas pessoas sábias, que são responsáveis por tudo de bom que plantei e colhi em minha vida. E, mesmo depois de bater asas e voar, sinto uma necessidade constante de me sentir acolhida nesse ninho em que fui criada. Por isso quase todos os finais de semana estou na casa em que cresci e vivi, a casa da minha avó.
Com todas as pompas e as honras de uma casa digna de vó, daquelas de contos de fadas, com bordados, crochês, bibelôs, quadros com fotos antigas, livros, cheiro de bolo com canela, flores, jardins, hortelã, árvores, gatos, cachorro, emoções e sensações. Sensações estas que eu conheço bem, de estar em casa.
E num destes finais de semanas habituais fui surpreendida por uma velha escada que esteve imóvel por mais de 10 anos – lá no quintal ao lado da porta da cozinha – após a partida do meu avô, seu dono. Fui tomada por uma vontade de movimentá-la, retirei-a do prego e a posicionei então no muro próximo a uma árvore cheirosa e carregada de mangas verdes. Subi até o último degrau, estiquei meu braço e alcancei a maior que encontrei.
Senti o meu pequeno ser interior abrir os olhos e um sorriso, despertando com pulos de alegria, como criança quando desperta de um sono profundo, com o qual recarregou todas suas energias, e a encarei como se esperasse muito tempo por isso.
Segurando aquela fruta verde em minhas mãos, senti a sensação de pertencimento àquele lugar de que conheço cada centímetro, cada cantinho, e as lembranças da infância tomaram conta daquele momento, trazendo ao consciente o invisível aos olhos.
Até pouco tempo atrás eu era como aquela manga, verde. E, como tal, precisava de tempo para amadurecer. Tempo esse que, há 10 anos, parecia uma eternidade. Não sei quanto tempo uma manga leva para nascer, crescer e ser colhida, mas a única certeza que tenho é que, no tempo certo, ela estará pronta, madura e suculenta. Como dizia minha avó: “Saber demais pode envelhecer a pessoa antes do tempo”.
Essas palavras nunca fizeram tanto sentido antes. Há uma quantidade de determinadas coisas que todos deveríamos saber em cada idade e em cada estágio das nossas vidas. Somente com o tempo e somente através dele podemos saber tudo o que deve ser sabido a seu tempo. A maternidade foi um divisor de águas na minha vida. A segunda vez que me tornei mãe foi a primeira vez que reconheci o amadurecimento, desejo e disponibilidade.
Poderia romantizar e dizer que não escolhi a maternidade, mas ela me escolheu quando engravidei aos 17 anos da minha primeira filha, mas vamos tirar o band-aid: estaria mentindo. Eu era uma manga verde demais. Sempre tive o dom de atropelar tudo e um impulso incontrolável de agir sem pensar. Com isso, aprendi que o tempo não é o único capaz de amadurecer tudo, mas também os erros e o que aprendemos com eles nos fazem amadurecer.
Engravidar aos 17 anos não foi um erro, eu só estava verde demais para colher esse fruto que me foi dado tão precocemente. Os merecimentos, a carga de experiências, os ciclos e tudo o que deles decorrem foram essenciais para o amarelado que hoje tenho em minha alma. Sem eles nada teria sentido. Mas somente o tempo se encarrega de alinhar tudo. Eu era uma manga verde.
E como sei que já não sou? Porque uma manga verde é incapaz de produzir frutos, de pensar e agir questionando e avaliando tudo antes de tomar decisões. Isso é maturidade para assumir responsabilidades. Isso é amadurecimento. Escolhi ser mãe, dei frutos. Me colha madura do pé.
Natalia Piassentini é mãe de Giulia e Maria e autora do blog Roteiro Kids (www.roteirokids.com.br)