Jéssica Victor Guedes tinha 30 anos e 29 semanas de gravidez. Ela estava noiva do tenente Flavio Gonçalves e iria se casar no último sábado (14). Mas durante o caminho da igreja, Jéssica passou mal e foi socorrida às presas.
A noiva foi levada ao hospital e transferida para uma maternidade no centro de São Paulo. Mas quando chegou lá, Jéssica já estava desacordada, pois sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC), que levou à sua morte. Os médicos conseguirem fazer uma cesárea de emergência e salvaram a bebê, Sophia.
Nos últimos dias, o tenente Gonçalves está precisando lidar com o misto de sentimentos que é segurar um bebê com a dor de perder a companheira. “Ontem, 14 de setembro, estávamos reunidos para celebrar o casamento do Tenente Gonçalves e sua noiva, Jessica, que estava grávida de 6 meses.
No caminho para a cerimônia, a noiva do Gonçalves passou mal, foi socorrida para a Maternidade Pro Matre onde foi feita uma cesária de emergência. A bebê Sophia, de 6 meses está bem, apesar de ter apenas 1kg. Ela está bem amparada e ficará bem!”, contou o capitão do tenente Gonçalves, em entrevista à Pais&Filhos. Jéssica teve um AVC hemorrágico em decorrência de uma eclâmpsia.
Pré-eclâmpsia na gravidez é grave, mas rara
A pré-eclâmpsia está entre as principais causas da mortalidade materna, e vem crescendo no Brasil, apesar dos avanços da medicina. O índice de mortalidade no Brasil está em 64,5 óbitos maternos para cada 100 mil nascidos vivos – um número bem acima da meta da Organização das Nações Unidas (ONU), de 30 óbitos para cada 100 mil bebês.
A pré-eclâmpsia pode aparecer tanto na gestação quanto no pós-parto, caracterizada por um aumento da pressão arterial, associado a alguma disfunção de órgãos (fígado, rim, cérebro), presença de proteína na urina e convulsão.
Quando esse diagnóstico é feito, mãe e bebê ficam em risco. Os possíveis desdobramentos são:
- Hemorragia cerebral
- Hemorragia generalizada
- Descolamento de placenta
- Parto prematuro
A pré-eclâmpsia acontece com maior frequência nos países subdesenvolvidos. Isso porque, muitas vezes, não é detectada a tempo, culpa dos pré-natais deficientes ou inexistentes das regiões mais pobres. Eclâmpsia vem do grego e significa “luz brilhante”. Nos estágios mais graves da doença, a gestante enxerga pontos luminosos.
A causa exata ainda é desconhecida, mas especialistas apontam que seja multifatorial. O que já se sabe é que ocorre uma reação imunológica na gravidez, sendo que na pré-eclâmpsia, o corpo da mãe passa a “estranhar” as células da placenta e do feto. É como se o bebê fosse visto como um ser invasor pelo organismo.
Os sintomas mais graves podem ser confundidos pela gestante com outros problemas mais corriqueiros: inchaço, dor de cabeça, dores no estômago e alterações de visão (que podem ser acompanhadas por crises de dor de cabeça). Se você está fazendo um bom pré-natal, as alterações serão percebidas pelo médico, que vai checar a pressão, verificando o quadro de hipertensão e pedir um exame de urina para confirmar se há presença de proteína. Quando a doença é diagnosticada, o procedimento é a internação, para estabilização da saúde e adiantamento do nascimento do bebê.
Existem fatores de risco para pacientes terem a doença, como pré-eclâmpsia na gestação passada, IMC (índice de massa corporal) maior que 25, hipertensão crônica, gestação múltipla, lúpus, diabetes prévio à gestação e histórico familiar de pré-eclâmpsia.
Em casos gravíssimos de pré-eclâmpsia ou eclâmpsia existe o risco de rompimento do fígado e acidente vascular cerebral (AVC). Quando a pré-eclâmpsia grave evolui para a eclâmpsia a mulher tem convulsões e pode até entrar em coma. Um dos sinais de que a pré-eclâmpsia pode virar eclâmpsia é exatamente quando ela enxerga pontinhos luminosos, a tal luz brilhante. Isso significa que o sistema nervoso central, que controla tudo o que acontece no corpo, está irritado. Alerta máximo: as convulsões estão chegando.
O que acontece com a mãe
- Descolamento de placenta
- Insuficiência renal
- Rompimento do fígado
- Hemorragia cerebral
O que acontece com o bebê
- Diminuição do líquido amniótico e parto prematuro
- Retardo de crescimento intrauterino
- Sofrimento e morte fetal
Período crítico
Os sintomas costumam aparecer a partir da 20ª semana de gravidez, mas podem vir antes se a mulher já for hipertensa. Neste caso, podemos falar em hipertensão agravada pela gravidez. No caso das que nunca tiveram pressão alta antes, a hipertensão pode ser induzida pela gestação. Mas a pré-eclâmpsia se configura se existirem os três fatores ao mesmo tempo: hipertensão, inchaço e perda de proteína pela urina. Mesmo assim, é possível que uma crise hipertensiva evolua para pré-eclâmpsia ou até mesmo para eclâmpsia sem passar pelo estágio mais moderado da doença. Preste atenção e anote: se a pressão arterial está acima de 16 por 11 por mais de seis horas o quadro já é grave.
Como prevenir
Mulheres que têm casos da doença na família devem tomar cuidado redobrado e começar a se tratar antes mesmo da gravidez. Isso inclui ficar de olho na dieta e, se preciso, controlar a pressão com medicamentos anti-hipertensivos. O aumento do cálcio na dieta também é recomendável. Os exames devem estar em dia e podem ajudar a detectar a possibilidade de pré-eclâmpsia antes mesmo que ela apareça. Exames de sangue, urina e o exame de fundo de olho irão dizer se está tudo ok com a mulher. Depois de engravidar, exames que medem o fluxo sanguíneo entre mãe e bebê vão garantir que a criança está recebendo os nutrientes necessários para crescer. Os exames previstos no pré-natal são importantes para fazer o controle da vitalidade fetal.
Como tratar
Quanto antes a pré-eclâmpsia ou eclâmpsia aparecer, pior. Isso porque a medida mais eficaz para tratar a doença é fazer o parto. A partir de 37 semanas de gestação o feto é considerado maduro, mas muitas vezes precisamos fazer o parto antes desta data para salvar a mãe e o bebê. Antes disso, é preciso analisar a situação de saúde do feto e da mãe, a possibilidade de evolução do quadro de pré-eclâmpsia para eclâmpsia e o risco de complicações, especialmente nos órgãos-alvo da mulher: cérebro, coração e rins. Enquanto o bebê ainda não está pronto para sair, seus sinais vitais são vigiados de perto pelos médicos; a mãe, dependendo da gravidade do caso, pode ficar internada na UTI, sob observação constante.
Consultoria: Cleyton Angelelli, pai de Mariana e Rodrigo, pediatra do Hospital Albert Einstein; Cristiane Fadel, mãe de Marina e Lara, ginecologista obstetra e especialista em gestação de alto risco; Eduardo Cordioli, filho de Gerson e Elisabete, gerente médico do Hospital Israelita Albert Einstein; José Bento de Souza, pai de Fernanda e Débora, ginecologista obstetra e especialista em Reprodução Humana; Soubhi Kahhale, pai de Pedro, Paulo e Raphael, ginecologista obstetra.
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