Durante a gestação, o corpo e a mente passam por transformações intensas. E, apesar de toda a expectativa que esse período pode trazer, muitas pessoas também enfrentam algo menos falado: a ansiedade. De acordo com estudos, quase 1 em cada 5 gestantes enfrenta algum tipo de problema de saúde mental durante a gravidez. E a ansiedade é uma das condições mais comuns — podendo afetar até 30% das grávidas.
Mesmo sendo tão recorrente, muitas vezes ela passa despercebida ou não é tratada da forma ideal. Isso acontece por vários motivos, como a falta de diagnóstico adequado, o medo de julgamentos ou até a dificuldade em encontrar ajuda especializada. Mas a boa notícia é que novas abordagens vêm mostrando caminhos mais eficazes para lidar com a ansiedade nesse período.
O que é cuidado colaborativo e como ele pode ajudar
Um dos modelos mais promissores para tratar a ansiedade durante a gravidez é o chamado cuidado colaborativo. Ele consiste em um trabalho conjunto entre diferentes profissionais da saúde: obstetras, psicólogos, enfermeiros, parteiras e psiquiatras. Essa integração permite que todos compreendam melhor a situação emocional da gestante e atuem de forma mais coordenada e eficaz.
Ao invés de depender exclusivamente de consultas isoladas com um único especialista, o cuidado colaborativo propõe um olhar mais amplo e acolhedor. Isso faz toda a diferença, principalmente quando os sintomas são intensos ou persistentes.
Como a ansiedade pode aparecer durante a gestação
Durante a gravidez, a ansiedade pode surgir de maneiras variadas. Entre os sinais mais comuns estão:
- Sensação persistente de que algo pode dar errado com o bebê
- Enjoo sem motivo físico aparente
- Dificuldade para pegar no sono, mesmo estando exausta
- Coração disparado em momentos de tensão
- Mente agitada, cheia de pensamentos que não param
- Preocupações que se repetem o tempo todo
Se você se identificou com alguns desses sintomas, é importante procurar apoio e conversar com um profissional de saúde de confiança. O cuidado começa pelo acolhimento.
Por que tratar a ansiedade é tão importante
Ignorar a ansiedade na gravidez pode trazer consequências tanto para a gestante quanto para o bebê. Estudos mostram que ela pode aumentar o risco de parto prematuro, baixo peso ao nascer e complicações no momento do parto. Além disso, também está relacionada a maior probabilidade de depressão pós-parto, dificuldades na ligação entre mãe e bebê e até problemas comportamentais futuros na criança.
Por isso, o tratamento adequado é essencial — e quanto mais cedo ele começar, melhor.

O papel das terapias psicológicas
Além do cuidado colaborativo, outras abordagens também têm mostrado bons resultados, como a terapia cognitivo-comportamental (TCC), o mindfulness, entrevistas motivacionais e o acompanhamento psicológico com foco em acolhimento e escuta ativa.
No entanto, nem sempre a TCC sozinha dá conta das demandas emocionais da gestante, especialmente em momentos de maior vulnerabilidade. Nesse caso, iniciar com terapias mais suaves e acolhedoras pode ser mais efetivo, ajudando a pessoa a se sentir compreendida e segura para, depois, avançar para etapas mais desafiadoras do tratamento.
Educação emocional também faz parte do processo
Uma parte importante do tratamento é entender o que está acontecendo no corpo e na mente durante a gravidez. O termo “matrescência”, por exemplo, descreve o processo de transição para a maternidade — algo que envolve mudanças hormonais, físicas, emocionais e sociais. Compreender essa transformação ajuda a reduzir a ansiedade, pois mostra que muitos dos sentimentos experimentados têm uma explicação.
Outro ponto essencial é reconhecer os próprios sinais de ansiedade, identificar como eles se manifestam no corpo e desenvolver estratégias para lidar com eles no dia a dia.
Cada gestação é única
Vale lembrar que o tratamento ideal pode variar de pessoa para pessoa. O mais importante é não ignorar os sinais, buscar apoio e conversar com profissionais que ofereçam um atendimento respeitoso e humanizado. O cuidado colaborativo não é a única solução possível, mas pode ser um ótimo ponto de partida para quem deseja cuidar da saúde mental de forma integrada durante a gestação.