Fui pai antes de me tornar adulto, mas me achava adulto antes de me tornar pai e só entendi realmente o valor de meus pais depois de ter meu primeiro filho. Com 23 anos, meu sonho era viver de rock no país do Carnaval; quando minha mulher (na época, namorada) engravidou, não havia grandes horizontes para que isso se tornasse possível.
Sempre olhei para a paternidade com o prisma da responsabilidade. Achava e continuo achando um absurdo quem quer que seja colocar uma criança no mundo e ignorar todas as questões relacionadas à criação, que requer atenção, respeito e o máximo de amor.
Não sou hipócrita e não tenho problemas em admitir que houve um debate sobre um aborto. Porém, tivemos a lucidez de perceber que aquela criança, independentemente do futuro do nosso relacionamento, poderia receber todos os nossos cuidados; quando, em comum acordo, chegamos à conclusão de que o melhor seria levar a gravidez adiante, despertei para um novo mundo.
Meu filho nasceu e, oito meses depois, fui demitido. Tivemos o apoio de nossas famílias, nos mudamos para a laje da casa dos pais de minha mulher, e foi ali que percebemos o quanto é difícil e trabalhoso criar um filho e constituir uma família.
No entanto, o fato de ter me tornado pai me deu ainda mais motivação para seguir adiante com meus sonhos.
Em 2002, com lágrimas nos olhos, recebi a notícia de que, depois de muito murro em ponta de faca, teríamos nosso primeiro disco lançado por uma grande gravadora.
O sucesso veio ao custo de muitas idas e vindas pelas estradas do Brasil. Tempo em que dividia minha atenção entre os compromissos da banda e minhas responsabilidades de pai.
A saudade, tive de aprender na marra a controlar, e com a prosperidade do Detonautas, cada vez tinha menos tempo para acompanhar os primeiros passos do meu filho, Lucas. Buscava ofertar o máximo de atenção a ele, mas carregava a culpa de crer que não estava sendo suficiente. Bobagem minha. Depois aprendi que qualidade é muito mais importante do que quantidade e nunca troquei minha presença por brinquedos ou bens materiais.
Tomamos muitos sustos. O Lucas teve refluxo num grau altíssimo quando bebê, depois emendou problemas respiratórios e passou por quatro pneumonias.
Sete anos depois, veio minha princesa. Bárbara Odara. Programada.
Com minha carreira mais estável, conseguimos passar por todos os obstáculos e dificuldades que surgiram. Bárbara deu bem menos trabalho nos primeiros doze meses; contudo, com 2 anos descobrimos que ela possuía uma doença rara.
Lidar com esse tipo de questão é sempre muito complicado e doloroso. Levamos nossa filha a diversos especialistas para tentar descobrir qual era realmente seu problema e se tinha cura. Descobrimos que cura não existia, mas que poderíamos controlar a patologia.
Lidar com um segundo filho me fez tomar decisões de maneira mais competente. Seguimos adiante nessa experiência maravilhosa – e que assim seja, sempre.
Tico Santa Cruz, pai de Lucas e Bárbara, é vocalista da banda Detonautas. Em seu blog, escreveu um texto para a filha.