Ali Musthofa, o guia indonésio de 20 anos envolvido na tragédia com a brasileira Juliana Marins, falou abertamente sobre o episódio que terminou com a morte da turista durante uma trilha no vulcão Rinjani, na Indonésia. Em entrevistas recentes, ele abriu o coração sobre as acusações, os momentos finais ao lado da brasileira e os impactos que tem enfrentado desde então.
Juliana recusou acompanhamento exclusivo
De acordo com Ali, Juliana optou por um passeio em grupo, chamado de “pacote compartilhado”, mesmo após ele ter sugerido um acompanhamento exclusivo, alternativa que seria mais segura, especialmente considerando que ela não tinha experiência em trilhas.
“Ela era a mais devagar do grupo, e dava pra ver o quanto estava exausta”, comentou. Como o pacote incluía mais cinco turistas, Ali explicou que precisou seguir com os demais trilheiros, o que o deixou dividido entre cuidar do grupo e acompanhar Juliana mais de perto. “O trecho do cume é perigoso, e fiquei preocupado com os que já estavam na frente”, afirmou.

“Eu gritava para ela não se mover”
Durante uma conversa no canal do influenciador indonésio Denny Sumargo, no YouTube, Ali narrou os últimos instantes que teve com Juliana. Segundo ele, antes de se afastar, tentou combinar com ela um ponto de encontro.
“Falei: ‘Você pode esperar aqui. Eu só quero checar como eles estão lá na frente. Eu vou te esperar lá’”, contou. Ele esperou por 30 minutos, mas ela não apareceu.
Ao retornar ao último local onde estiveram juntos, Ali afirma que notou uma luz distante. “Vi uma lanterna cerca de 150 metros abaixo e tive a sensação de que era ela. Entrei em pânico.”
Ali continuou: “Fiquei lá o tempo todo, gritando para ela me escutar. Dizia para esperar, para não se mexer. E ela só conseguia repetir: ‘help me’.”
“Queria poder pedir desculpas”
Muito abalado, o guia revelou que ainda guarda o desejo de ter tido a oportunidade de se desculpar diretamente com Juliana. “Eu esperava que ela sobrevivesse. Só queria pedir perdão. Dizer ‘me desculpe’.”
Ali teve a chance de se encontrar com o pai e a irmã da brasileira na embaixada do Brasil na Indonésia. Lá, contou detalhadamente como os fatos aconteceram e, mais uma vez, pediu desculpas à família.
“Eles estavam com raiva. Eu entendi. Disse que aceitaria qualquer consequência. Expliquei que fiz tudo o que estava ao meu alcance, mas infelizmente, Deus quis diferente”, desabafou.
Reações e afastamento das trilhas
Em outro depoimento para o criador de conteúdo brasileiro Brunno Tavarez, Ali revelou uma frase que ouviu do pai da vítima: “Você matou minha filha.” Diante da dor do pai, o jovem preferiu se calar.
Após o acidente, Ali foi proibido de guiar turistas no Monte Rinjani, e sequer pode visitá-lo como turista. Ele disse que está temporariamente afastado do trabalho, passando os dias dentro de casa.
“Fico no meu quarto vendo vídeos. Não sei o que fazer agora. Só espero que, um dia, eu possa voltar ao Rinjani. Nem que seja como turista. Sinto falta daquele lugar, do vulcão”, finalizou.