Nos últimos anos, a conscientização sobre o autismo tem crescido significativamente, refletindo também o aumento dos diagnósticos. No entanto, muitas pessoas ainda associam o transtorno a sinais visíveis e marcantes, como dificuldades na comunicação, interação social e comportamentos repetitivos. Características como hiperfoco em um tema específico, dificuldade de interpretar e expressar emoções também são frequentemente associadas ao autismo. Embora esses aspectos sejam comuns em alguns indivíduos com transtorno do espectro autista (TEA), há uma realidade muitas vezes invisível: o autismo de nível leve, também conhecido como “autismo invisível”.
Pessoas com autismo leve enfrentam dificuldades que não são imediatamente aparentes, muitas vezes passando despercebidas durante a vida. Muitas dessas pessoas não recebem diagnóstico, ou, quando o fazem, enfrentam descrença, uma vez que “não parecem autistas”. Este tipo de autismo, comumente encontrado em mulheres, traz desafios consideráveis, como o esgotamento emocional, o isolamento social e dificuldades em ambientes de trabalho. Embora esses indivíduos consigam se comunicar e, em muitos casos, esconder suas dificuldades por meio do que é conhecido como “masking” (camuflagem), isso não significa que eles não precisem de apoio.
De acordo com a psiquiatra Danielle Admoni, especialista em psiquiatria infantil e de adolescentes, o autismo de nível 1, ou de suporte leve, é caracterizado por um desenvolvimento cognitivo e de fala mais preservado. No entanto, ela afirma que “algum prejuízo ele vai trazer, pois é isso que caracteriza o transtorno”. Isso quer dizer que, apesar de uma pessoa com autismo leve não apresentar um atraso significativo em habilidades de comunicação, ela pode ter dificuldades em interações sociais e exibir comportamentos inflexíveis.
Essas dificuldades podem ser difíceis de detectar, especialmente porque o autista de suporte leve pode se esforçar constantemente para se ajustar às expectativas sociais. O esforço de se camuflar, ou “mascarar” as dificuldades, gera um alto custo emocional. As pessoas com TEA de suporte leve frequentemente experimentam exaustão mental, já que precisam constantemente se adaptar para se encaixar nos padrões sociais estabelecidos pelos neurotípicos, evitando críticas e bullying. Isso pode resultar em uma sensação de sobrecarga emocional, que muitas vezes não é reconhecida ou validada pelas pessoas ao redor.

Além disso, as representações de autistas em filmes e séries muitas vezes reforçam estereótipos que não correspondem à realidade de indivíduos com autismo leve. O retrato de personagens com TEA frequentemente foca em pessoas com necessidades de suporte mais intensas, o que pode dificultar a compreensão pública sobre o autismo de nível 1. Esse estigma e a falta de representação realista podem levar os autistas de suporte leve a se sentirem isolados ou incompreendidos.
Para muitas pessoas com autismo de nível leve, o diagnóstico só chega na vida adulta. Muitas delas não têm consciência de que são autistas até mais tarde, o que pode ser um alívio e ao mesmo tempo um desafio. Ao receberem o diagnóstico, esses indivíduos podem se sentir mais compreendidos e capazes de buscar ajuda. “O suporte vai depender de cada caso. Em geral, apenas uma terapia cognitivo-comportamental pode ser suficiente, mas varia para cada pessoa. O fato de o autista nível 1 conseguir se comunicar já é um grande passo para uma boa adaptação”, afirma a psiquiatra Danielle Admoni.
O diagnóstico e o tratamento adequado podem ser transformadores, ajudando esses indivíduos a se aceitarem e a se expressarem de maneira mais autêntica. O apoio terapêutico, como a terapia cognitivo-comportamental, pode ser uma excelente ferramenta para desenvolver habilidades sociais e lidar com as dificuldades emocionais. Além disso, um acompanhamento profissional adequado oferece às pessoas com autismo leve as ferramentas necessárias para se relacionar melhor com os outros e lidar com as situações que podem parecer desafiadoras.
É fundamental que os pais, educadores e profissionais de saúde reconheçam que o autismo de nível 1 não é menos significativo que outras formas do transtorno. Embora esses indivíduos possam não apresentar os sinais mais óbvios, suas dificuldades são reais e merecem ser tratadas com a mesma seriedade. Com a devida conscientização e apoio, pessoas com autismo leve podem viver uma vida plena, construindo amizades, carreira e bem-estar emocional.
O autismo invisível pode ser um desafio silencioso para aqueles que vivem com ele, mas com um diagnóstico adequado e uma rede de apoio sólida, essas pessoas podem aprender a lidar com suas dificuldades e prosperar em suas interações sociais e no ambiente de trabalho. Ao compreender melhor as nuances do autismo de nível leve, a sociedade pode criar um ambiente mais inclusivo e acolhedor para todos, independentemente de suas diferenças.










