Temos visto com frequência nos últimos meses, comentários, debates e opiniões sobre a série “Adolescência”, veiculada pela Netflix. Uma série de quatro capítulos, produção barata, sem efeitos especiais, que tem uma repercussão marcante e vem sendo uma das mais assistidas neste serviço de streaming. Não se trata aqui de comentar exatamente as qualidades ou defeitos desta obra, mas sim sobre como podemos aprender com ela.
Há 28 anos criei na Associação Paulista de Medicina, o Cine Debate e mais recentemente na Universidade de Pais, onde as pessoas assistem a um determinado filme e depois participam de um debate.
Diferentes pessoas assistem o mesmo filme e manifestam suas percepções. Interessante observar que a mesma cena, a mesma história é percebida de forma diferente. Não há o certo ou o errado. Cada um deve valorizar a sua percepção e com o debate poderá esclarecer a validade de sua observação.
Segundo o psiquiatra Edward de Bono, existem diferentes formas de aprendizado. O aprendizado direto, onde a pessoa aprende com sua própria experiência e o indireto, quando se aprende pelo relato de experiências de outros.
O aprendizado direto tem a vantagem da fidelidade, pois se aprende com a própria vivência sem intervenções de terceiros. Mas pode ser perigoso, uma vez que a pessoa pode não sobreviver. Em síntese: “É batendo a cabeça que se aprende”.

O aprendizado indireto tem a vantagem de ser seguro, nele se aprende com a batida de cabeça de outro. Porém, tem como característica negativa a infidelidade, já que os relatos e descrições podem ter elevado grau de distorção. Quando utilizamos o cinema como instrumento de aprendizado, estamos somando as vantagens do aprendizado direto, a fidelidade, e a positividade do aprendizado indireto, já que nos emocionamos, sofremos com a dor dos personagens sem passarmos pelos mesmos problemas e ou riscos. Por estes motivos debater filmes é uma atividade pedagógica de grande valia.
A série “Adolescência” tem provocado reações interessantes ao permitir que profissionais das áreas de educação, saúde, direito, pais e outros interessados possam trazer para debates questões relativas ao bullying, negligência familiar, falta de escuta, uso de telas, mídias sociais, sexualidade entre outros. Opiniões extremamente divergentes e até conflituosas não são raras.
Como pai, avô, educador parental, psiquiatra e psicoterapeuta me preocupam muitas abordagens catastróficas sobre os temas presentes e me cabe aqui, propor que você, leitor da Pais&Filhos, tome cuidado com o que escuta sobre essa série e tenha filtros para a dramaticidade com que ela tem sido abordada. Muitas vezes a dramaticidade gera medos, sem trazer soluções razoáveis a não ser medidas proporcionais à dramatização das abordagens.
Deixar os pais assustados não ajuda a proteger as crianças dos riscos existentes nas mídias sociais, no convívio escolar e social. Te convido a fazer parte da www.universidadedepais.com.br, aqui reunimos cursos, mentorias, podcasts, para trazer conhecimento, apoio e leveza na sua parentalidade.