O bullying continua sendo uma das maiores ameaças ao bem-estar de crianças e adolescentes nas instituições de ensino. Embora não seja um comportamento novo, somente nos últimos anos a sociedade começou a tratar o problema com a seriedade necessária. À medida que cresce a conscientização sobre saúde emocional e os efeitos de comportamentos abusivos, o cenário educacional passa a se adaptar para combater essa prática de forma mais ativa.
Impactos e números alarmantes
Segundo dados do DataSenado divulgados pelo jornal Extra, mais de 6,7 milhões de estudantes brasileiros relataram ter vivenciado algum tipo de violência escolar em 2023. Esse número representa cerca de 11% do total de alunos matriculados no país, revelando uma realidade urgente que exige iniciativas preventivas e educativas mais eficazes.
Iniciativas para se inspirar
Um projeto exemplar é promovido pela Legacy School: a Feira Literária – Um Mergulho na Leitura e na Conscientização, que ocorre entre os dias 4 e 11 de abril. Durante o evento, os estudantes apresentam trabalhos artísticos baseados nas leituras do bimestre, promovendo reflexões sobre empatia, respeito e diversidade. As produções incluem desde músicas até desenhos, todos voltados para fomentar uma convivência escolar mais humana.
A experiência é ainda enriquecida com atividades multiculturais oferecidas pelo programa bilíngue da escola, envolvendo também as famílias dos alunos em um diálogo mais amplo sobre o respeito mútuo.
A psicóloga Camila Conceição, que atua na Legacy School, afirma que ações como essa são fundamentais para estimular a empatia. “A escola deve ser um ambiente seguro, onde todos possam aprender e se desenvolver sem medo. A conscientização é o primeiro passo para criar uma cultura de respeito e empatia entre os estudantes”, afirma. Ela ressalta ainda o papel das famílias: “Os pais e responsáveis têm um papel fundamental no combate ao bullying, incentivando o diálogo em casa e reforçando valores como respeito e solidariedade.”

O papel dos educadores na prevenção da violência escolar
A pedagoga Taís Guimarães destaca a responsabilidade dos profissionais da educação em detectar comportamentos preocupantes. “Os professores e gestores escolares precisam estar preparados para identificar sinais de bullying e intervir de forma eficaz. Criar um ambiente de acolhimento e incentivo ao diálogo é essencial para garantir que os alunos se sintam seguros e respeitados”, afirma.
O autor Phillip Murdoch, que fundou a rede de escolas Legacy, também atua na prevenção ao bullying através da literatura. Seu livro “Bullying, não!” é utilizado nas salas de aula para abordar o tema com os pequenos de forma lúdica. A história de Henry, um menino que aprende a lidar com um colega agressivo, transmite mensagens de empatia, perdão e respeito através de uma narrativa acessível. A proposta é iniciar desde cedo a construção de uma cultura escolar mais solidária e inclusiva.
Três pilares contra o bullying
A diretora pedagógica Raquel Mazzaro, da unidade da Legacy School em Ilha Pura (RJ), defende que o combate ao bullying deve ser contínuo e colaborativo. Segundo ela, a escola baseia sua estratégia em três eixos principais:
- Conscientização: Desde o começo da trajetória escolar, a escola investe em ações educativas para aumentar a conscientização dos alunos sobre o bullying, que ajudam os estudantes a identificar comportamentos prejudiciais e a entender a importância de respeitar as diferenças. Para isso, são realizadas palestras, workshops e atividades interativas, que envolvem também os pais, criando um entendimento coletivo sobre a necessidade de um ambiente escolar saudável e respeitoso.
- Mediação de conflitos: A escola tem um programa de mediação de conflitos, onde os alunos são preparados para identificar e resolver desentendimentos de forma construtiva, sempre com o apoio de um adulto. Esse processo contribui para fortalecer uma cultura de respeito e empatia entre os estudantes. Além disso, os professores são treinados regularmente para agir rapidamente em situações de tensão, prevenindo que elas evoluam para casos mais graves de bullying.
- Apoio Psicológico: O suporte psicológico oferece apoio tanto para as vítimas quanto para os agressores. A escola oferece atendimento contínuo com profissionais especializados, que auxiliam na recuperação do bem-estar emocional dos envolvidos. A abordagem não se limita à punição do comportamento agressivo, mas busca entender suas causas e proporcionar ajuda.
Apoio Psicológico
Para Raquel, o acompanhamento emocional é imprescindível. “O suporte psicológico é crucial para lidar com as vítimas e os agressores. Oferecemos atendimento contínuo com psicólogos especializados, que ajudam a restaurar o bem-estar emocional dos envolvidos. Não se trata apenas de punir o comportamento agressivo, mas de compreender suas causas e oferecer ajuda para que tanto as vítimas quanto os autores do bullying possam superar suas questões.”