Na época da Páscoa, tem coisa melhor do que aquele chocolate gostoso derretendo na boca? Mas junto com os ovos, barras e bombons, também surgem as dúvidas: será que isso tudo faz mal? A resposta não é tão amarga quanto parece. Segundo especialistas, o chocolate pode, sim, fazer parte de uma alimentação equilibrada — desde que seja consumido com consciência.
E olha só: o tipo de chocolate, a quantidade e até o momento em que comemos fazem toda a diferença.
O chocolate mexe (e muito!) com o nosso cérebro
Sabe aquela sensação de alegria depois de comer chocolate? Ela tem explicação científica! “O chocolate ativa o sistema de recompensa do cérebro, liberando serotonina e dopamina, neurotransmissores ligados à sensação de prazer”, conta Gustavo Patury, cirurgião do aparelho digestivo da Rede D’Or.
Mas o problema aparece quando a busca por essa sensação vira hábito. Isso acontece, principalmente, com os chocolates ao leite e branco, que são ricos em açúcar e gordura. O resultado? Um consumo exagerado que pode bagunçar o organismo, afetando diretamente o fígado, o intestino e até o humor.
Exagerou no chocolate? O corpo reclama!
Se você já comeu chocolate demais e sentiu aquele estufamento ou dor de estômago, saiba que não está sozinho. “O consumo excessivo pode causar náusea, refluxo, distensão abdominal e até diarreia. Em pessoas com gastrite, ele ainda pode agravar o quadro, estimulando a secreção ácida do estômago”, alerta Patury.
Além disso, o exagero pode mexer com o emocional. O médico também chama a atenção para a compulsão alimentar: “Grandes quantidades de chocolate podem desencadear perda de controle sobre a ingestão, o que afeta tanto a saúde física quanto emocional.”

Chocolate amargo: o herói (quase) sem capa
Enquanto o chocolate ao leite e o branco devem ser consumidos com moderação, o chocolate amargo merece os holofotes! Com 70% de cacau ou mais, ele é rico em antioxidantes e polifenóis, substâncias com efeito anti-inflamatório e protetor.
A hepatologista Bianca Della Guardia, coordenadora clínica do Transplante de Fígado da Rede D’Or, explica que o chocolate amargo pode até ajudar na prevenção da gordura no fígado (esteatose hepática). “Estudos apontam que, em pequenas quantidades diárias, ele pode reduzir processos inflamatórios e prevenir doenças metabólicas”, afirma.
Vale lembrar: a esteatose hepática atinge cerca de 30% da população mundial e, se não for tratada, pode evoluir para quadros mais graves, como cirrose e até câncer hepático.
O que observar na hora de escolher o chocolate
Se o plano é curtir um docinho sem colocar a saúde em risco, alguns cuidados são essenciais. De acordo com Bianca, quanto menor a porcentagem de cacau, maior a presença de leite, açúcar e gorduras saturadas. “Essas versões são mais calóricas e podem contribuir para o ganho de peso e o descontrole metabólico”, alerta.
Por isso, ao invés de cortar o chocolate de vez, o segredo está na escolha e na quantidade. Com pequenas mudanças, dá para aproveitar o melhor do chocolate sem culpa.
Dicas para um consumo consciente e gostoso
Aposte nestas orientações para curtir o chocolate com equilíbrio:
- Prefira chocolates com 70% ou mais de cacau
- Fuja dos ultraprocessados e com muito açúcar
- Fique na faixa de 30 a 40g por dia
- Coma devagar, saboreando cada pedaço
- Combine com frutas, que ajudam a aumentar a saciedade
- Redobre os cuidados se usar medicações emagrecedoras ou tiver feito cirurgia bariátrica — o excesso de açúcar pode causar desconfortos como o dumping (mal-estar com tontura e suor frio)
“O chocolate não precisa ser cortado da rotina, mas deve ser consumido com consciência. Pequenas escolhas, como optar por versões com mais cacau e evitar exageros, podem ter grande impacto na saúde”, finaliza Gustavo Patury.