Identificar o autismo logo no início pode fazer toda a diferença no desenvolvimento da criança. E, acredite, muitos sinais aparecem em momentos simples do dia a dia, daqueles que a gente nem dá muita bola. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), o Transtorno do Espectro Autista (TEA) envolve diferentes graus de dificuldades na comunicação, linguagem e comportamento social, e costuma se manifestar ainda na infância, acompanhando a pessoa por toda a vida.
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), nos Estados Unidos, estima que 1 em cada 36 crianças apresenta algum grau do transtorno. Por isso, quanto mais cedo a família conseguir identificar os sinais, melhor. Segundo Jéssica Ramalho, cofundadora da Acuidar, rede de cuidadores especializados, o convívio próximo com as crianças ajuda bastante nessa percepção. “Cada caso de autismo é único, mas existem alguns padrões que precisam ser observados pelos cuidadores e familiares. O olhar atento durante as atividades diárias revela sinais importantes para um diagnóstico precoce”, explica.
Se você tem dúvidas sobre como identificar esses comportamentos, a gente te mostra cinco sinais que podem aparecer na rotina e merecem atenção:
Fascínio por detalhes que ninguém mais percebe
Você já viu uma criança que fica completamente hipnotizada olhando para as linhas de um tapete ou para o contorno de uma figura no livro? Isso pode ser um dos sinais. Crianças com autismo, muitas vezes, se interessam por padrões visuais e pequenos detalhes, ao invés de focarem no objeto como um todo. Enquanto algumas estão encantadas com a história do livro, outras preferem analisar apenas as bordas das páginas. E não é questão de distração: é um jeito diferente de perceber o mundo.
Mais interesse por objetos do que por pessoas
Enquanto a maioria das crianças quer mostrar suas descobertas, chamar alguém para ver o que fizeram ou brincar em grupo, algumas com TEA preferem explorar objetos sozinhas. Pode ser um brinquedo específico, um pedaço de papel ou até um chaveiro. “Notamos que, em várias situações, o interesse da criança por um item específico se torna tão intenso que ela ignora completamente o que acontece ao seu redor”, conta Jéssica.
Isso não significa que ela é tímida ou introspectiva. É só que a conexão com os objetos pode ser mais intensa do que com as pessoas naquele momento.
Reações diferentes a sons e estímulos do ambiente
Algumas crianças são verdadeiros “radares” de som. Um liquidificador ligado, uma sirene ao longe ou até o barulho de papel sendo amassado pode causar desconforto real. Cobrir os ouvidos, chorar ou se irritar são reações comuns. Segundo Jéssica, essa sensibilidade aumentada pode ser um dos sinais do autismo. “Muitas vezes, os pais não entendem por que a criança está incomodada, mas, para ela, sons que para nós são cotidianos podem ser extremamente incômodos”, explica.

Pouco interesse por brincadeiras de imitação
Fazer caretas, fingir que está no telefone, imitar animais… essas são brincadeiras que fazem parte do desenvolvimento das habilidades sociais. Mas nem todas as crianças se envolvem nessas atividades com facilidade. Crianças com autismo podem não se interessar tanto por jogos de faz de conta, e isso pode ser um sinal de alerta. Não é que elas não saibam brincar – é só que esse tipo de interação pode não fazer tanto sentido para elas.
Dificuldade em entender gestos e expressões
Saber quando alguém está bravo, feliz ou triste só pelo olhar é algo que muitas crianças aprendem naturalmente. No entanto, para quem tem autismo, essa leitura pode ser mais desafiadora. “Costuma ser difícil para elas perceber quando alguém está triste, bravo ou feliz apenas pela expressão. Durante uma conversa, podem evitar o contato visual ou não perceber sinais de desinteresse ou entusiasmo no rosto do interlocutor”, explica Jéssica.
Essa dificuldade de perceber e responder aos sinais sociais exige uma dose extra de paciência e estratégias específicas por parte dos adultos. Mas, com apoio adequado, é possível construir pontes de conexão afetiva e comunicação.
Fique de olho no que a rotina tem a dizer
Os sinais de autismo não são sempre óbvios, mas estão ali, nas pequenas coisas do dia a dia. Observar com atenção e carinho pode ser o primeiro passo para buscar um diagnóstico precoce e oferecer o suporte necessário. E lembre-se: cada criança é única, com seu jeito de ver e viver o mundo. Por isso, o mais importante é estar presente e informado. Afinal, quando o assunto é desenvolvimento infantil, informação nunca é demais.
Se notar algum desses sinais com frequência, vale procurar orientação de um profissional especializado. Quanto antes o acompanhamento começar, melhores são as chances de a criança se desenvolver com mais autonomia e qualidade de vida.