Segundo Atlas Mundial da Obesidade, metade da população mundial deverá ter sobrepeso em 2035 – a pesquisa destaca que as taxas estão aumentando rapidamente entre crianças e em países mais pobres. No Brasil, obesidade deve atingir 23% das meninas e 33% dos meninos daqui a 12 anos. O país pode ter até um terço de suas crianças e adolescentes vivendo com a comorbidade no ano futuro. Em 2020, 12,5% das meninas e 18% dos meninos estavam nessa condição.
Obesidade infantil
Obesidade infantil é papo sério, e como forma de conscientizar diversas famílias sobre o assunto, a data reforça a importância de práticas alimentares mais saudáveis, além do estímulo às atividades físicas. Com os hábitos sedentários e uma piora na alimentação, é essencial ficar de olho, inclusive em tempos de pandemia, quando as crianças estão passando mais tempo dentro de casa.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 41 milhões de crianças menores de cinco anos já estão acima do peso. Com o alerta, a Sociedade de Pediatria identifica o dado como grave e a necessidade de reduzi-lo drasticamente. De acordo com a pediatra do Hospital Universitário, Maria de Fatima Valente Rizzo, a obesidade precisa ser acompanhada pela família, pois pode causar implicações tanto na parte física, como psicossocial. Com as taxas de sobrepeso aumentando na pandemia, a OMS estima ainda que até 2025 cerca de 75 milhões de crianças estarão obesas.
O gastrocirurgião do Instituto EndoVitta, Dr. Eduardo Grecco, reforça: “Estudos apontam que crianças e adolescente com obesidade tem a chance de serem em 75% ou 80% de se tornarem adultos obesos. Isso pode ser um fator genético, pois a genética influencia nesse sentido e o outro motivo está totalmente relacionado à alimentação e a falta de atividade física”.
A partir de um pré-natal adequado, estudos mostram que é possível prevenir o problema desde o ventre materno. Segundo a pediatra e neonatologista Flavia Oliveira, da Sociedade Brasileira de Pediatria, mãe de Lucas e Pedro, isso pode ser explicado pela genética, pois a composição corporal, de 60% a 80%, é determinada pelos mais de 300 genes envolvidos na regulação do peso e que são hereditários. “Outros pontos que também influenciam são o aumento de peso da mãe e a diabetes gestacional, que levam a uma programação metabólica no bebê que faz com que ele tenha piores preferências alimentares, obesidade e síndrome metabólica na vida adulta”, explica.
A amamentação pode prevenir o ganho de peso na infância?
Sim! “Uma análise recente mostrou que as crianças amamentadas apresentam 22% menos risco de obesidade quando comparada àquelas que receberam fórmulas especiais, principalmente após os três meses de vida”, comenta Flávia Oliveira. Ainda de acordo com a médica, isso pode acontecer porque diversas fórmulas prontas são mais ricas em calorias e proteínas. Nos primeiros dois anos de vida, o excesso de proteína está associado a uma maior produção endógena de insulina e IGF-1, hormônios ligados à diferenciação das células de gordura e do seu acúmulo. Esse mecanismo é conhecido como ‘programming’ e representa fator crucial para o desenvolvimento da obesidade e suas consequências na vida adulta”.
Como mudar a alimentação dos filhos
A pediatra e neonatologista alerta ainda sobre o uso da mamadeira para acalmar a criança: “Isso acaba prejudicando o aprendizado correto da auto regulagem da fome”, explica. Como dica, Flávia diz que é superimportante incluir as crianças no preparo das refeições, pois assim elas podem desenvolver um bom relacionamento com a comida.
Além disso, um estudo feito pela Universidade de Harvard prova que fazer as refeições regularmente em família também diminuem as chances de sobrepeso e obesidade: “O bebê aprende a se alimentar com os pais e vai ter bons hábitos se os mesmos o tiverem. Famílias que priorizam frutas, verduras, legumes e grãos integrais aos alimentos industrializados têm muito mais saúde e qualidade de vida. Isso se reflete não apenas no presente, mas principalmente no futuro de todos”.
Para iniciar o processo de mudança, é importante que os pais também estejam empenhados: “A família precisa avaliar essas crianças e adolescentes com uma consulta com endócrino pediatra e psicólogos, e a seguir começar um trabalho com toda a família, no sentido, de que as famílias precisam mudar seus hábitos, porque senão existe uma cobrança em relação ao adolescente e essa cobrança não “se ver” em toda família”, explica o Dr. Eduardo Grecco.
A boa alimentação dentro de casa é um reflexo da família
Para ajudar na boa alimentação em casa, Ana Luisa Vilela, médica especialista em obesidade, conta como os pais podem auxiliar os filhos nesta tarefa. Como alternativa, é importante manter os alimentos mais saudáveis sempre à vista e prontos para o consumo: “Manter o freezer cheio de opções boas e práticas também ajudam muito”.
O gastrocirurgião explica ainda que essa fase “é um momento de adaptação e formatação da sua maturidade psicológica. É importante conversar, mostrar preparos novos e mais saudáveis, mostrar que é possível ter uma dieta saudável, não proibir totalmente, mas limitar para uma ocasião de fim de semana ou uma festa. O importante é no dia a dia procurar uma alimentação mais saudável”.
No caso das frutas, verduras e legumes devem ser lavados antes de colocados na geladeira e serem deixados sempre à mostra. Para deixar ainda mais prático, a dica é guardar tudo já picado! Os queijos e iogurtes também não podem faltar, assim como as fibras de aveias, entre outras, deixadas sempre aos olhos dentro do armário.
Para as carnes, frango e peixes, você pode separá-los ao congelar e mantê-los já temperados. Os ovos também são uma ótima pedida no cardápio, pois são ricos em proteína e de baixa caloria.
O que fazer quando a fome inesperada bater?
Nestes casos, opte por petiscos mais saudáveis como, por exemplo, a pipoca natural feita sem gordura na panela, ou até mesmo os biscoitos de polvilho. “Geralmente o lanche escolar ou aquele entre as refeições servem para dar energia à criança, por isso não precisa ter exagero nas calorias. Para simplificar, o ideal é que ele contenha: uma porção de carboidratos – para fornecer energia; uma porção de lácteos – que contêm proteínas; uma porção de frutas ou legumes – que são os responsáveis pelas fontes de vitaminas, fibras e minerais, e uma bebida para hidratação“, completa Ana Luisa Vilela.
A importância dos exercícios físicos na pandemia
Sobre os novos hábitos digitais, as crianças e adolescentes tendem a cair no sedentarismo e deixar os exercícios e atividades físicas de lado. “É importante também estimular a prática de atividade física e buscar alternativa como, por exemplo: futebol, basquete, natação, dança e hoje existem outras atividades que tirem as crianças e adolescentes do sedentarismo. Hoje as crianças ficam muito vinculadas ao videogame, celular e computador, e acaba gerando uma acomodação na família. É claro que precisa respeitar também esse universo digital, mas é preciso criar o equilíbrio, da liberação das atividades digitais e ao mesmo tempo intercalar com um estilo de vida onde se sinta prazer em atividades esportivas”, explica o Dr. Eduardo Grecco.
Qual a diferença da obesidade infantil para a obesidade mórbida infantil?
De acordo com o pediatra pela Sociedade Brasileira de Pediatria, Dr. Paulo Telles, a obesidade pode ser definida como o excesso de gordura corporal. “Como a medida da gordura corporal não é de fácil acesso, para uma avaliação adequada faz-se necessário uma medida que facilite a prática diária. A relação entre peso e altura, o indice de massa corporal (IMC) tem sido utilizada para avaliar a obesidade”
Tipos de obesidade
- Sobrepeso IMC entre 85 e 95% de idade e sexo.
- Obesidade IMC acima de 95% para idade e sexo.
- Obesidade severa (Classe II) IMC maior q 120%
- E obesidade de classe III, 190% acima do IMC para sexo e idade
- Classifica-se como obesidade mórbida, esta forma mais grave coloca em risco a saúde da criança
Crianças obesas serão adultos obesos?
Segundo a nutricionista materno-infantil da Liga da Cozinha Afetiva, Dra. Flávia Montanari, as de que isso possa acontecer são grandes, mas não é determinante. “As possibilidades de que as crianças obesas de hoje se tornem adultos obesos no futuro são grandes, e essa tendência é ainda mais forte se os pais também forem obesos. Mas se a criança e o ambiente familiar forem tratados e conscientizados desde cedo, podemos sim mudar este cenário”.
Como a família pode ajudar a mudar esse cenário dentro de casa?
O primeiro passo para mudar o cenário e ter uma rotina mais saudável e revendo os hábitos dentro de casa. “Os pais devem rever o que estão levando para dentro de suas casas, diminuindo o consumo de alimentos com alto teor de gordura, bebidas açucaradas, fast food, aumentar o consumo de frutas, vegetais e grãos integrais, realizar as refeições em família (sempre que possível), diminuir a exposição às telas, incentivar a prática de atividade física, etc”.
Além disso, a nutricionista reforça que os pais são espelhos para os filhos. “O que se come é tão importante quanto, quando, onde, como e com quem se come! Pais, encorajam seus filhos através do incentivo para a prática de esportes e o consumo de uma alimentação variada, equilibrada e balanceada. Seja exemplo, desta forma, ensinará seu filho a cuidar da sua saúde”, conclui.