Raciocínio rápido, muita curiosidade e vocabulário avançado para a idade. Esses são sinais de uma criança que é superdotada. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 5% da população mundial tem altas habilidades. O diagnóstico pode ser confirmado com testes de QI, que estão aptos para identificar e definir o grau de inteligência da criança, a partir dos 2 anos e 6 meses de idade. A associação Mensa Brasil, que presenta a Mensa Internacional, principal organização de alto QI do mundo, realiza o diagnóstico em bebês.

Mas, você deve estar se perguntando, o que muda no cérebro dessas crianças? Segundo o mestre em psicologia e especialista em neurociências, Fabiano de Abreu Agrela, as crianças superdotadas têm maior capacidade de aprender e muitas vezes fazem isso sozinhas, sem muitas explicações. E essa facilidade não se dá apenas em conteúdos pedagógicos, mas também na área de esportes, artes e esbanjam criatividade.
Isso acontece porque apresentam um volume maior de matéria cinzenta – parte responsável pela cognição, a inteligência e capacidade de processamento de informação em certas regiões do cérebro. “Cientificamente falando, os neurônios desses indivíduos são maiores e mais robustos, o que aumenta o potencial de ação entre as conexões entre eles – também conhecido como eficiência neuronal”, afirma Fabiano.
De acordo com informações publicadas na revista científica The British Psychological Society, o cérebro humano tem 28 regiões relacionadas com a nossa habilidade de raciocinar, agir, focar a atenção e reagir a estímulos sensoriais externos e as crianças com altas capacidade apresentam uma maior especialização em cada uma dessas áreas cerebrais. “Além disso, há fatores genéticos envolvidos, desde o precursor a genes da inteligência que ajudam nas conexões”, explica o neurocientista. Ou seja, é como se o cérebro dessas pessoas tivessem muito mais estradas e ruas para conduzir os dados e todas as vias fossem intercomunicadas, permitindo um funcionamento muito rápido.
Boa notícia, mas nem tanto!
Por mais que pareça uma notícia superpositiva, os superdotados no Brasil passam por muitas dificuldades, em especial, na vida escolar. Segundo dados do Censo Escolar de 2020, apenas 24.424 estudantes identificados com perfil de altas habilidades/superdotação estavam matriculados na educação especial.
Segundo o neuropsicólogo e também superdotado Damião Silva, existem poucas políticas públicas eficazes para pessoas com alta habilidades ou superdotadas no país. “Nós só teremos apoio quando souberem que não somos apenas 24 mil e sim milhões de pessoas de norte a sul do país que não podem ser simplesmente jogadas no ‘limbo’. Uma criança identificada e atendida será uma criança feliz”, alerta Damião.

Ainda assim, esse é um direito garantido por lei. De acordo com a Constituição Brasileira as escolas têm o dever de dar a cada criança superdotada a educação de que ela necessita, como conteúdos diferenciados e desafios maiores que a mantenham interessada. Além disso, essas crianças devem ter acesso a um programa de inclusão educacional, também chamada educação especial, voltada a todos os indivíduos que possuem qualquer tipo de dificuldade (auditiva, visual, cognitiva) ou facilidade de aprendizagem (altas habilidades/superdotação), em todas as fases de ensino.
Mas na prática não é assim que acontece. “Há inúmeros relatos de crianças superdotadas que não querem ir à escola por causa do desinteresse. Algumas, inclusive, têm suas notas afetadas já que, precisa ter vontade para querer aprender”, explica Damião. Ele revela ainda que há várias razões para isso, entre elas a falta de capacitação dos educadores: “Ou o ensinamento é fácil demais, ou a professora acaba sendo repetitiva devido às dúvidas dos demais alunos, ou o método de ensino não agrada e acaba deixando essa criança desinteressada”, completa Damião.
Criança é criança!
É essencial lembrar que, mesmo com o desenvolvimento cerebral mais aguçado, os superdotados continuam sendo crianças que gostam de brincar assim como todas as outras. O neuropsicólogo Fabiano alerta para o risco de exclusão. “Enxergar o mundo de maneira diferentes e os interesses serem incomuns, não são compartilhados, acabam se colocando em solidão.”
Ele alerta ainda que vivemos em uma sociedade em que as diferenças nem sempre são bem-vindas. “A palavra inteligência por si só foi imposta pela sociedade como algo que todos têm que ter, o que é natural, já que ela nos diferencia dos demais animais. Mas quando se é mais inteligente, pode sim criar inveja que acaba por gerar preconceito. Eu, assim como alguns dos meus clientes superdotados já fomos atacados na internet”, explica Fabiano.
E agora? Como lidar?
A orientação dos pais é fundamental. A superdotação não é uma doença, mas sim uma condição neuroatípica genética, ou seja, um desenvolvimento diferente do cérebro, mas que precisa de atenção especial. Atualmente, no Brasil, não existe um mapeamento oficial, esse processo de identificação deve ser feito pelos familiares em conjunto com a escola e em seguida seguir para uma avaliação neuropsicológica.
Uma dica importante para os pais é evitar pressionar ou colocar ainda mais expectativas sobre o desempenho dos filhos. Vale lembrar que uma criança superdotada necessita da instrução dos pais para lidar com frustrações e problemas como qualquer outra da sua faixa etária. Caso contrário, a saúde mental pode ser prejudicada. Com baixa inteligência emocional, a criança não conseguirá manejar as suas emoções e sentimentos no futuro. E isso pode até mesmo desencadear alguns tipo de transtornos, como ansiedade, depressão e hiperatividade. Ou até mesmo encarar dificuldades atingir o seu potencial máximo.