Se você anda acordando no meio da madrugada com uma criaturinha subindo na sua cama, saiba que não está só. O medo de dormir sozinho é algo bastante comum entre as crianças, principalmente entre os dois e seis anos. Essa fase também pode se estender para os mais velhos, especialmente quando a ansiedade e a insegurança entram em cena.
Correr para o quarto dos adultos durante a noite pode parecer apenas uma birra, mas tem raízes mais profundas. Para muitas crianças, a separação dos pais na hora de dormir representa um verdadeiro desafio emocional. Isso acontece, principalmente, quando há um vínculo muito próximo durante o dia ou em períodos em que mudanças significativas aconteceram — como uma nova escola, mudança de casa ou até mesmo alguma perda marcante.
E a imaginação fértil? Essa, então, voa solta. O escuro vira palco para monstros, sombras ganham vida e qualquer barulho é motivo para o coração disparar. Para o cérebro em desenvolvimento, tudo isso parece muito real, e o quarto, que deveria ser um lugar de descanso, pode parecer um campo de batalha.
O impacto que essa situação pode ter no sono (e além dele)
Apesar de parecer algo inofensivo, quando a criança sai da sua cama todas as noites, o sono dela é diretamente afetado. A fase mais profunda do sono, aquela que é essencial para a recuperação física e emocional, fica comprometida. Isso pode levar a um cansaço fora do comum, dificuldades de concentração, baixo rendimento escolar e até um sistema imunológico mais vulnerável.
Além disso, problemas como insônia, terrores noturnos, pesadelos ou despertares frequentes podem se tornar frequentes, atrapalhando ainda mais a qualidade do sono. E tem mais: a criança pode ter dificuldade em desenvolver sua autonomia emocional, já que dormir sozinha também é um passo importante para se sentir segura e confiante.
E os pais, como ficam no meio disso tudo?
Não é só a criança que perde sono nessa história. Quem acorda no susto no meio da noite, divide o travesseiro (ou é chutado para o sofá) e ainda precisa funcionar no dia seguinte, sabe bem o impacto disso. O cansaço acumulado gera irritação, impaciência e, muitas vezes, aquela culpa por ter perdido a paciência ou por ceder só para conseguir algumas horas a mais de sono.
Quando os limites não são bem definidos e as exceções viram regra, a criança começa a associar esse comportamento com uma recompensa: a atenção dos pais. E aí, pronto: o ciclo se instala e fica mais difícil romper com ele depois.

Como ajudar a criança a dormir sozinha (sem dramas ou pressa)
A primeira coisa é alinhar as expectativas entre os adultos. Criar uma rotina consistente para dormir e acordar ajuda (e muito). O quarto da criança deve ser acolhedor, organizado, ter uma iluminação suave, decoração que transmita tranquilidade e elementos que a façam se sentir segura. Vale bichinho de pelúcia, cobertor preferido ou o cheiro que ela adora.
O ritual do sono é um ótimo aliado: banho morno, história tranquila, música leve. Evite conteúdos que agitem ou assustem, como filmes de terror, uso de telas ou conversas pesadas antes de dormir. O momento deve ser relaxante.
Outro ponto essencial é a presença gradual. Ficar ao lado da cama no início, sem deitar junto, já é um passo para que a criança se acostume com a ideia de dormir sozinha, mas sem se sentir abandonada. Paciência e constância são as chaves do sucesso nesse processo.
Quando é hora de buscar ajuda?
Se mesmo com todo o esforço a criança continuar apresentando um medo muito intenso ou persistente, vale considerar a ajuda de um profissional. Um terapeuta ou especialista em sono infantil pode ajudar a identificar possíveis causas mais profundas e orientar os pais com estratégias mais personalizadas.
Afinal, todo mundo quer dormir bem. E, para isso, cada membro da família precisa se sentir seguro, respeitado e ouvido — inclusive durante a noite.