Febre, falta de apetite e aquela cara abatida de quem está ficando doente. Resfriado de novo, você pensa. Mas, passam os dias, a febre continua e não há remédio que dê um jeito. Na maioria dos casos é assim que a pneumonia aparece: devagar e camuflada com os sintomas de uma gripe. Essa infecção respiratória grave, considerada a principal causa de mortes de crianças menores de cinco anos em todo o mundo, pode ser causada por bactérias, vírus ou fungos.
No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, apenas em 2018, mais de mil óbitos de pneumonia foram registrados em bebês e crianças de até quatro anos, sendo uma das principais causas de morte infantil no país. Hoje, dia 12 de novembro, celebra-se o Dia Mundial da Pneumonia, uma data criada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2009, para aumentar a conscientização e prevenção da doença.
Em um comunicado divulgado nesta terça-feira (12), a Unicef, a agência da ONU para a Infância, e outras cinco organizações, incluindo a ONG Save the Children, alertam para o fato de que a pneumonia é uma “epidemia esquecida”. Em 2018, a doença respiratória matou uma criança de menos de 5 anos a cada 39 segundos, informa o texto. Ao todo, mais de 800.000 crianças dessa faixa etária morreram no ano passado, vítimas da infecção. “A maioria das mortes afeta crianças de menos de dois anos, sendo que 153.000 delas faleceram em seu primeiro mês de vida”, indicam.
Como na maior parte das infecções, os grupos que apresentam maior vulnerabilidade são os idosos e as crianças. Por isso, é essencial ficar atento a alguns sintomas que podem sugerir essa doença, como febre alta e persistente, falta de ar, chiado no peito, tosse persistente e gemência. A intensidade da doença varia de leve a muito grave, dependendo de quem está causando a pneumonia e outros detalhes ligados às condições do doente. A boa notícia é: a maior parte das pneumonias são leves e respondem bem aos tratamentos, desde que diagnosticadas rapidamente, e não costumam deixar sequelas. Respondemos às dúvidas mais comuns sobre a doença:
O que é a pneumonia?
A pneumonia é uma infecção nos pulmões provocada por bactérias, vírus ou fungos. A bactéria Streptococcus pneumoniae (ou pneumococo) é o agente causador de doenças pneumocócicas e é responsável por 60% dos casos de pneumonia. A pneumonia causada pelo pneumococo é grave, mas é prevenível com a vacinação. A maioria das bactérias, como os pneumococos, desencadeia uma inflamação intensa que provoca febre. No entanto, 5% a 10% das pneumonias são chamadas de atípicas, pois vêm sem febre. Essas infecções são causadas por vírus e algumas bactérias, como micoplasma, por exemplo.
Como acontece a transmissão?
A bactéria (pneumococo) pode ser facilmente transmitida através da tosse, espirro ou por objetos contaminados de pessoas que contraíram a doença ou que estão com a bactéria, mesmo não apresentando sintomas. Por isso a prevenção é tão importante. Segundo o Dr. Emersom Mesquita, gerente médico de vacinas da GSK, é comum que pessoas, principalmente crianças, sejam portadores e transmitam a doença, mesmo sem adoecer. “Qualquer pessoa pode ser afetada pela doença pneumocócica. Mas as crianças com até dois anos de idade, idosos, lactentes e pessoas com doenças crônicas e baixa imunidade são as mais vulneráveis”, alerta.
Quais são os sintomas?
Os principais sintomas de uma pneumonia aguda são tosse constante, febre, gemidos por causa de problemas respiratórios, dificuldade para se alimentar, apatia, prostração, e aumento da frequência respiratória. As crianças que manifestarem esses sinais devem ser levadas para atendimento médico imediato para tratamento adequado.
- Febre por mais de quatro dias
- Tosse
- Catarro
- Falta de ar
- Falta de apetite
- As crianças costumam gemer por causa da febre
- Respiração mais rápida
- Dor no peito ao respirar
- Os recém-nascidos podem não apresentar febre
Como prevenir a doença?
A forma mais eficiente de prevenir as doenças pneumocócicas em crianças é com a vacinação. O Calendário de Vacinação do Programa Nacional de Imunizações (PNI) recomenda a administração de duas doses da Vacina Pneumocócica 10-valente (conjugada) idealmente aos 2 meses e aos 4 meses de idade e uma dose de reforço aos 12 meses. Já a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomendam a vacinação contra a doença pneumocócica em um esquema de três doses – 1ª aos 2 meses, 2ª aos 4 meses e a 3ª aos 6 meses de idade – e uma dose de reforço entre os 12 e 15 meses de idade. A vacina pneumocócica está disponível gratuitamente nos postos de saúde para crianças menores de cinco anos. Além da vacinação, outras formas de prevenção da doença em crianças são: lavar as mãos regularmente, garantir uma nutrição saudável, não compartilhar mamadeiras, copos e utensílios de cozinha e beber água potável.
Como diagnosticar a pneumonia em crianças?
Na suspeita de pneumonia, o pediatra geralmente solicita radiografia de tórax, que é um exame simples e capaz de detectar essas pneumonias atípicas. Em algumas situações são necessários exames de sangue, como o hemograma e a proteína C reativa, que podem indicar se a infecção é bacteriana ou viral.
A pneumonia pode ser consequência de uma gripe mal curada?
Segundo o Dr. Claudio Len, pai de Fernando, Beatriz, Silvia, pediatra do Hospital Albert Einsten e consultor da Pais&Filhos, a pneumonia é sempre uma consequência de uma infecção pulmonar por uma bactéria, vírus ou fungo. Acontece que muitos vírus causadores de gripe, como o influenza, podem infectar os pulmões, além das vias aéreas superiores. “A causa da pneumonia não é uma gripe mal curada, mas sim uma infecção do pulmão pelo vírus causador da gripe. Por outro lado, o acúmulo de secreção nas vias aéreas, que ocorre em uma gripe, pode facilitar a contaminação por bactérias que estão no ar, que por sua vez podem causar pneumonia”, explica a o especialista.
Existe pneumonia de repetição?
De acordo com Dr. Claudio, algumas crianças podem ter a doença mais de uma vez. Na maioria dos casos trata-se de uma coincidência, especialmente quando o intervalo é longo. No entanto, nos casos de infecção pulmonar de repetição (3 ou mais vezes) no mesmo local do mesmo pulmão, deve-se ficar atento a possíveis causas, como malformações pulmonares e corpos estranhos (alimentos ou outros materiais aspirados para os brônquios). Nesses casos cabe uma avaliação com exames mais sofisticados.
Como diferenciar bronquite de pneumonia?
A bronquite, mais corretamente chamada de asma, é uma doença alérgica desencadeada por fatores externos, como mofo, poeira, ácaro ou mudança da umidade do ar. Essa complicação, que atinge mais as pessoas com predisposição genética, pode ir e voltar várias vezes ao longo da vida. Os sintomas são falta de ar, chiado no peito e tosse. Já a pneumonia é causada por bactéria ou vírus e, na maioria dos casos, vem acompanhada de febre alta e persistente e tosse com secreção. Em alguns casos, a asma pode aumentar a secreção nas vias áreas, o que favorece a infecção por uma bactéria com pneumonia. O tratamento da bronquite é com remédios broncodilatadores (que abrem as vias aéreas) e da pneumonia é com antibiótico.
Como tratar a pneumonia?
“Bacterianas ou virais, devem ser tratadas com antibióticos. Mas as virais podem precisar do suporte de oxigênio, bronco dilatadores e anti-inflamatórios”, diz o pneumologista pediátrico João Paulo Lotufo, pai de João Paulo, Marcelo, Guilherme e Ana Carolina. Mas não é só a medicina tradicional que pode ajudar a combater a pneumonia. Um pediatra homeopata pede os mesmos exames que um alopata, mas, em vez de apenas combater o agente da infecção, vai procurar reforçar a imunidade da criança, afirma a pediatra homeopata Ana Maria Vasen, mãe de Arthur e Raphael. A medicina antroposófica, assim como a homeopatia, foca na predisposição do organismo da criança a esses agentes patogênicos. É como se a bactéria ou o vírus procurasse o canto mais desprotegido. No caso da pneumonia, o pulmão.
O pediatra Antonio Carlos de Souza Aranha, pai de Tarsila, Lara e Thiago, explica que o pulmão precisa ser fortalecido com tratamentos específicos para cada criança e que a inalação, fisioterapias respiratórias e alimentação saudável são algumas das armas usadas, com exceção dos recém-nascidos, que precisam de antibióticos. O melhor remédio é tentar prevenir, claro. “A queda de resistência está relacionada a fatores como poluição, água e friagem”, garante o doutor Aranha. Cigarro em casa, nem pensar. Filhos de fumantes têm 25% a mais de chance de ter doenças respiratórias. Verifique se a ventilação é suficiente e evite usar substâncias irritantes, como aerossóis e desinfetantes fortes.
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