Voltar ao trabalho depois da chegada de um bebê pode parecer uma missão impossível. O corpo ainda se recupera, os hormônios estão a mil, o sono é um luxo e, no meio disso tudo, ainda há a expectativa de continuar rendendo como se nada tivesse mudado. Mas a verdade é que mudou – e muito! O puerpério, período que começa logo após o parto, é uma verdadeira montanha-russa de transformações físicas, emocionais e sociais. E tentar se adaptar a tudo isso enquanto volta à rotina profissional exige mais do que força: exige acolhimento.
A montanha-russa emocional
De acordo com Talita Rocha, professora de Psicologia da Una Uberlândia, esse período envolve mudanças intensas no corpo e na mente. “A volta ao trabalho nesse contexto pode gerar ansiedade, culpa e frustração. A mulher enfrenta o medo de não ser boa mãe nem boa profissional, além da pressão social para ‘dar conta de tudo’”, explica.
Essas mudanças podem vir acompanhadas de sintomas como irritabilidade, cansaço extremo e, em casos mais sérios, depressão pós-parto. Por isso, Talita reforça: “Culpa é um sentimento comum, mas nem sempre racional. Criar uma rotina com pausas, redefinir o conceito de boa mãe e buscar apoio psicológico são atitudes fundamentais para manter a saúde mental”.
Produtividade sem sobrecarga? Sim, é possível
A cobrança por produtividade pode intensificar o desgaste emocional. Mas é possível criar estratégias para equilibrar as tarefas do trabalho com os cuidados com o bebê. Talita compartilha: “Planejamento e organização da rotina, com margem para imprevistos; delegar tarefas sempre que possível, em casa e no trabalho; praticar pausas e autocuidado, mesmo que breves; estabelecer limites para evitar sobrecarga”.
Outro ponto essencial é contar com uma rede de apoio verdadeira. Ter pessoas por perto que escutam sem julgar, ajudam nas tarefas e dividem responsabilidades faz toda a diferença para o bem-estar emocional. Esse suporte contribui para aliviar a sobrecarga, reforçar a autoconfiança da mulher nesse novo papel e evitar a sensação de estar sozinha.

O corpo também pede cuidado
Além das questões emocionais, o corpo da mulher também continua em processo de recuperação. Fabiana Rodrigues de Almeida, professora do curso de Enfermagem da Una Catalão, lembra que “o autocuidado deve ser mantido mesmo com a rotina agitada. Alimentação equilibrada, sono, hidratação, acompanhamento médico e atenção à saúde mental são essenciais. O puerpério não termina com o fim da licença-maternidade”.
Para quem está amamentando, é possível manter a lactação ao retornar ao trabalho, desde que haja uma boa organização. Isso inclui garantir pausas para ordenha, armazenar o leite de forma adequada e dedicar tempo para o vínculo com o bebê fora do expediente. Além disso, estar atenta a sinais como cansaço excessivo, dores persistentes ou mudanças de humor pode ajudar a identificar possíveis problemas mais rapidamente.
Profissionais da saúde como ponto de apoio
A professora também destaca o papel fundamental da enfermagem nesse período tão delicado. A equipe de enfermagem é muitas vezes o primeiro contato de acolhimento e apoio para a mulher após o parto, oferecendo orientações sobre amamentação, saúde íntima, prevenção de infecções e encaminhamentos para outros profissionais, como psicólogos e nutricionistas.
Fabiana ressalta que o apoio à mulher trabalhadora deve ser constante, e que políticas públicas podem fazer toda a diferença. “Iniciativas como grupos de apoio nas Unidades Básicas de Saúde, programas de orientação em pré-natal e pós-parto, licença-maternidade ampliada e ambientes de trabalho com salas de apoio à amamentação fazem parte de um conjunto de medidas que valorizam a saúde física e mental da mãe”.
Informação, empatia e respeito ao tempo de cada mulher
Mais do que uma fase fisiológica, o puerpério é um momento de profundas transformações — físicas, emocionais e sociais. Com apoio, informação e empatia, é possível transformar essa etapa em um processo mais leve, saudável e humanizado. Afinal, cuidar da mulher que cuida é uma responsabilidade coletiva.