No mês de abril, a campanha Abril Azul ganha destaque ao promover a conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Dentro desse cenário, o ambiente escolar assume um papel fundamental não apenas no diagnóstico precoce, mas também na construção de uma convivência mais inclusiva e respeitosa para os alunos com autismo.
Escola como aliada na detecção precoce do autismo
A escola é, muitas vezes, o primeiro lugar onde os sinais do autismo podem ser percebidos com mais clareza. Isso acontece porque é no convívio com colegas e professores que dificuldades de comunicação, interação social e comportamentos repetitivos se tornam mais visíveis.

Camila da Silva Conceição, psicóloga da Legacy School, destaca a importância da observação atenta por parte dos educadores. “A escola pode observar comportamentos característicos que sugerem o TEA, entre eles dificuldades na interação social, desafios na comunicação, sensibilidades sensoriais e comportamentos estereotipados. Quando esses sinais são percebidos, é essencial atender a família de forma acolhedora, compartilhar as observações e sugerir uma avaliação detalhada com um profissional especializado”, explica.
A importância de um ambiente estruturado e acolhedor
Além da identificação, as instituições de ensino têm a missão de promover estratégias inclusivas que facilitem o processo de aprendizagem. Para isso, é necessário adotar métodos adaptados às necessidades específicas de cada aluno.
Entre as abordagens eficazes, Camila cita algumas práticas que ajudam na rotina escolar dos estudantes com TEA: “Algumas estratégias são: criar um ambiente previsível, utilizar uma comunicação clara e direta, recorrer a recursos visuais para reforçar o aprendizado, oferecer tempo adicional para a realização de tarefas e incentivar a socialização.”
Lidando com crises no cotidiano escolar
Outra questão relevante é como o ambiente escolar deve lidar com momentos de crise emocional, que podem ocorrer com certa frequência entre crianças com autismo. A psicóloga oferece orientações sobre como agir com sensibilidade e empatia: “É preciso manter um ambiente calmo e, quando necessário, levar a criança para um local mais tranquilo. Utilizar técnicas de regulação emocional ajuda, mas o mais importante é identificar os gatilhos que desencadeiam a crise, para prevenir futuras situações semelhantes.”
O envolvimento da família e de especialistas no processo educacional é essencial para garantir um suporte efetivo às crianças com autismo. Camila enfatiza que esse trabalho colaborativo contribui para um desenvolvimento mais harmonioso: “Essa parceria é fundamental para o bem-estar e bom aproveitamento pedagógico do aluno com TEA. Permite ajustes em estratégias e favorece o acompanhamento da evolução da criança.”
Educação inclusiva começa com empatia e informação
Conscientizar os colegas de turma é uma medida indispensável para combater o preconceito e criar um ambiente mais justo. Isso evita o isolamento da criança e reduz as chances de bullying.
“Atividades educativas que abordem o que é o TEA, suas características e como todos podem contribuir para um ambiente mais empático são muito importantes. Valorizar as diferenças é essencial”, pontua a psicóloga.

Adaptações curriculares e capacitação docente
Personalizar o currículo, respeitando os limites e potencialidades de cada estudante, é uma das estratégias mais eficazes para promover a inclusão. Segundo Camila, esse processo pode envolver mudanças simples, mas significativas: “A adaptação pode envolver simplificação ou redução de conteúdos, uso de recursos visuais, tarefas mais curtas e ajustes no tempo para evitar sobrecargas.”
Para que isso se torne viável, é indispensável investir na formação contínua dos profissionais da educação. “É preciso realizar treinamentos sobre as características do autismo, estratégias de inclusão e manejo de crises. Também é essencial promover a empatia e a comunicação clara”, completa.
Superando obstáculos com diálogo e formação contínua
Mesmo com tantos avanços, ainda existem desafios, como a resistência de algumas famílias em buscar diagnóstico, a escassez de apoio terapêutico e a dificuldade de parte dos professores em aplicar práticas inclusivas. Ainda assim, Camila acredita que a superação dessas barreiras é possível: com diálogo, acolhimento e capacitação constante.










