Abril é o mês da conscientização sobre o autismo — também conhecido como Abril Azul — e além de falar sobre inclusão, respeito e empatia, é importante abrir espaço para uma questão que impacta diretamente muitas famílias: os desafios financeiros envolvidos no cuidado com uma pessoa no espectro autista.
A campanha de 2025 traz o tema “Informação gera empatia, empatia gera respeito”, reforçando a ideia de que o conhecimento é essencial para construirmos uma sociedade mais justa e acolhedora. Mas enquanto o mundo discute inclusão, dentro de casa, muitas famílias vivem a realidade de contas que não fecham, despesas que só aumentam e a necessidade de buscar seus direitos para garantir uma vida com qualidade para seus filhos.
Famílias com filhos autistas gastam até três vezes mais
Uma pesquisa realizada pelo Instituto PENSI, em parceria com a FIPE/USP, mostrou que os gastos mensais de famílias com filhos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) podem ser até três vezes maiores do que os de famílias típicas. Só para se ter uma ideia, quem convive com uma criança com TEA nível 3 pode desembolsar, em média, R$ 1.859 a mais por pessoa todos os meses. Alimentação, transporte, educação e saúde estão entre as principais despesas.
João Victorino, educador financeiro e pai de uma criança no espectro, explica que o planejamento financeiro nessas famílias precisa ser redobrado. “Durante a infância, que é o período em que geralmente acontece o diagnóstico, os custos são ainda maiores. Exames, consultas com diversos especialistas e terapias contínuas exigem organização e, muitas vezes, sacrifícios”, aponta.
Quando o tratamento é contínuo, o orçamento precisa acompanhar
O autismo não tem cura, e o acompanhamento de saúde precisa ser constante. Isso significa que os gastos não acontecem só de forma pontual — eles se mantêm por anos. Psicólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, médicos de diferentes especialidades, fonoaudiólogos, nutricionistas… é uma equipe inteira que muitas vezes é necessária para acompanhar o desenvolvimento da criança.
“Independente do nível de suporte necessário, o tratamento demanda acompanhamento multidisciplinar. E infelizmente, nem todas as famílias conseguem arcar com tudo isso”, diz João.

Benefícios que podem (e devem) ser buscados
Para tentar aliviar essa sobrecarga, existe o Benefício de Prestação Continuada (BPC), oferecido pelo INSS. Ele garante um salário mínimo mensal (R$ 1.509 em 2025) para famílias de baixa renda que tenham uma pessoa com deficiência e que comprovem que ela não consegue se manter sozinha. É uma ajuda importante, mas ainda insuficiente diante da realidade de muitos lares.
Planos de saúde: direito garantido, mas nem sempre respeitado
Outro ponto importante são os planos de saúde. Desde uma decisão do STF, em 2022, ficou estabelecido que os tratamentos para pessoas com TEA devem ser cobertos integralmente, mesmo que não estejam na lista padrão da ANS. Isso quer dizer que, se o médico recomendar, o plano tem obrigação de cobrir.
Na teoria, tudo certo. Na prática, nem tanto. João conta que há muitos casos de “recusa passiva”, quando os planos simplesmente ignoram pedidos de adesão de famílias com filhos autistas. “Temos relatos de pessoas que tentaram contratar cinco operadoras diferentes e não conseguiram. Isso é ilegal e precisa ser denunciado”, alerta.
Informação é poder — e é também proteção
Mais do que nunca, saber os seus direitos é essencial. Afinal, garantir o tratamento adequado para uma criança no espectro não deve ser um privilégio — é um direito. A luta por mais inclusão também passa pelo acesso aos serviços, à saúde e à segurança financeira.
Durante o Abril Azul, é importante reforçar a empatia. Mas também é hora de cobrar políticas públicas, regulamentações mais rígidas e respeito às famílias que vivem essa realidade todos os dias. Como diz a campanha: informação gera empatia, e empatia gera respeito. E isso vale, também, quando falamos de orçamento.