A infertilidade masculina é um tema que ainda carrega muitos tabus, afetando diretamente casais que enfrentam dificuldades para conceber. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 15% dos casais em idade reprodutiva encontram desafios para ter filhos, e estima-se que aproximadamente 8 milhões de brasileiros vivenciem esse problema. Desses, 40% dos casos têm origem na infertilidade masculina, o que representa cerca de 3,2 milhões de homens no país. Embora esses números sejam expressivos, muitos homens ainda evitam procurar ajuda médica devido à desinformação sobre o tema.
Causas da infertilidade masculina
De acordo com o Dr. Kauy Victor Martinez Faria, urologista e andrologista da clínica VidaBemVinda, a infertilidade masculina pode ser causada por diversos fatores. Esses fatores são classificados em três grupos principais: pré-testiculares, testiculares e pós-testiculares.
- Fatores pré-testiculares: envolvem questões hormonais e condições como obesidade, diabetes e hipertensão arterial, que comprometem a estimulação dos testículos.
- Fatores testiculares: referem-se a alterações diretas nos testículos, como a varicocele (dilatação das veias testiculares) e infecções como orquite (inflamação dos testículos), que afetam a produção de espermatozoides.
- Fatores pós-testiculares: envolvem obstruções nos canais que transportam os espermatozoides, problemas como ejaculação retrógrada ou malformações na uretra.
O especialista destaca que fatores como o consumo excessivo de álcool, o uso de tabaco e a exposição a infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) podem agravar ainda mais o quadro de infertilidade masculina. “Manter uma alimentação saudável, praticar exercícios físicos e adotar hábitos de vida equilibrados são fundamentais para evitar problemas reprodutivos”, complementa Faria.
Diagnóstico e tratamentos
O diagnóstico de infertilidade masculina começa com exames detalhados, como o espermograma, que avalia a qualidade e quantidade dos espermatozoides, e testes hormonais que ajudam a identificar deficiências que possam estar afetando a fertilidade. Uma vez identificado o problema, o tratamento varia conforme a causa.
“Para casos de varicocele, por exemplo, a cirurgia pode ser uma solução eficaz. Já em situações hormonais, a reposição hormonal pode ser indicada”, explica o urologista. Para os casos mais complexos, as técnicas de reprodução assistida, como a Fertilização In Vitro (FIV) e a Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoides (ICSI), têm mostrado grande eficácia. “Essas tecnologias oferecem uma chance real de paternidade, permitindo que muitos casais superem a infertilidade”, afirma.

O impacto da desinformação
Apesar dos avanços médicos, a desinformação continua sendo um grande obstáculo no tratamento da infertilidade masculina. Muitas vezes, mitos sobre a saúde reprodutiva masculina são disseminados, principalmente nas redes sociais, o que impede que os homens busquem ajuda adequada.
O Dr. Kauy Victor destaca alguns mitos comuns sobre a infertilidade masculina:
- “A infertilidade é sempre hereditária” – Embora fatores genéticos possam ter um papel, muitos casos são decorrentes de condições adquiridas, como problemas hormonais ou estilo de vida inadequado.
- “Usar roupas apertadas causa infertilidade” – O uso excessivo de roupas justas pode elevar a temperatura dos testículos, o que pode prejudicar a produção de espermatozoides, mas não é a causa direta da infertilidade.
- “Se o homem ejacula normalmente, ele não é infértil” – A fertilidade não depende apenas da ejaculação, mas da qualidade e quantidade dos espermatozoides.
- “Apenas mulheres devem se preocupar com a idade fértil” – Embora os homens produzam espermatozoides por toda a vida, a qualidade do sêmen diminui com o tempo, impactando as chances de concepção natural.
Essas falácias geram confusão e desconfiança, fazendo com que muitos homens demorem a procurar ajuda médica especializada. O especialista alerta: “É fundamental que os homens busquem informações confiáveis para poderem tomar decisões conscientes e informadas sobre sua saúde reprodutiva.”
Quebrando o estigma e buscando ajuda
Ainda existe um estigma sobre a infertilidade masculina, o que faz com que muitos homens adiem a procura por ajuda profissional. Uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) mostrou que quase 50% dos homens acima de 40 anos só buscam atendimento médico quando apresentam sintomas evidentes. Para aqueles que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS), esse número sobe para 58%.
No entanto, os especialistas apontam que a infertilidade não é uma sentença definitiva. “Com o avanço das tecnologias médicas e o acompanhamento adequado, muitos homens podem resolver sua condição e realizar o sonho de ser pai”, destaca Faria. O diagnóstico precoce, a quebra de tabus e o acesso à informação são fundamentais para aumentar as chances de sucesso nos tratamentos.