O sol nascia enquanto a madrugada se despedia. Fui acordada pelo celular, que tocou em uma hora imprópria. Assustada, atendi. Me ajeitei na cama, com o coração disparado, pronto para ouvir o pior.
Graças a Deus, não era o pior. Desliguei o telefone e expliquei para o Paulo que atento, aguardava por uma resposta. Levantamos rápido. Não tão rápido quanto gostaria. Minha barriga de 6 meses já pesava. A Nina estava ali, agarrada em meu ventre.
Em poucos minutos chegamos ofegantes na casa dos nossos amigos que nos receberam aos prantos. Todos choravam na verdade. A noite tinha sido muito difícil. Sua bebê, de poucos dias de vida, não estava no berço. Tomada por uma infecção generalizada, ela tinha passado mais uma noite na UTI. O medo era palpável. Ele nos rondava e consumia.
Os homens ficaram na sala. Nós duas (as três na verdade – a Nina!) fomos para a cozinha. O peito cheio de leite, longe da boquinha que não podia mais alimentar, precisava sair. Enquanto a máquina trabalhava, entre nós haviam dois líquidos caríssimos: o leite materno e as lágrimas.
Naquela manhã, desesperadas, clamamos ao Alto por socorro. Não sabíamos nem mais como orar. Mas Ele estava perto e, colheu aquela dor amarga que jorrava. Poucos dias depois o milagre aconteceu!
Três meses se passaram e a Nina chegou. No tempo certo, mas ela era pequena demais para a idade gestacional. Com 5 dias de vida era a nossa vez de correr para o pronto socorro e enfrentar uma UTI. O medo voltou.
Agora ele estava no meu colo. Eram os meus seios que sentiam o leite escorrer, sem ninguém para alimentar. Graças a Deus tudo ficou bem. Foi apenas um susto. Em menos de uma semana ela voltou para os nossos braços.
Eu realmente achava que estava tudo bem. Nossa menininha estava crescendo e, mais do que nunca me vi atarefada com as demandas de uma casa com duas crianças saudáveis. As pessoas me perguntavam e a resposta era a mesma: Graças a Deus tá tudo bem!
Com meus filhos estava tudo bem. Mas aquele medo… Aqueles dias onde a morte chegou tão perto mudaram meu coração. Havia uma ferida aberta que eu não conseguia identificar. Eu não estava bem.
Oito anos depois compreendi que a possibilidade de perder um filho é avassaladora. Foram anos para me recuperar. Eu mudei. Apesar de tudo “estar bem”, a vida ficou pálida por longos meses – pra ser sincera por anos!
Conto isso porque como pais, muitas vezes nos voltamos com tanta força e amor para os nossos filhos que, corremos o risco desse amor ser esvaziado de dentro de nós. Noites sem dormir. Preocupações. Problemas de saúde. Distanciamento do cônjuge. Desidratação. Cansaço extremo. Reclusão. Carga mental. Saudade dos amigos… Nos perdemos de nós mesmos e, nem sabemos mais se de verdade está tudo bem conosco.
Vale a pena respirar profundamente, olhar para o Alto e, se perguntar: Tá tudo bem comigo? Se a resposta for não, nem pense duas vezes. Peça ajuda. Ela virá.