Sempre fui uma pessoa que gostou de se mexer, de praticar atividades físicas. Da yoga, passando pela corrida, musculação ou tênis, pode me convidar que estou dentro. Um dos meus grandes prazeres, quando meus filhos eram pequenos, era sair com eles empurrando o carrinho. Sinto saudades imensas até hoje. Era uma forma de sair da rotina, sair de casa e botar o corpo para se movimentar, além de uma conversinha boa com eles, mesmo que quando pequenos eles não me respondessem. Hoje, acho que eles responderiam sim, e me agradeceriam pela voltinha à toa. Claro, quando se tem filhos, é necessário adaptar as atividades físicas, encaixar horários, mas isso não significa parar. Para nossas cabeças e corpo, se mexer é fundamental.

Em parte é por isso que gostei tanto da leitura de um recém lançado livro infantil, “Vou a pé”, de Bianca Antunes e Luísa Amoroso (Pistache Editorial, 2023). A Luísa é filha de um grande amigo com quem compartilho boas trocas, da vida e da profissão. A leitura é um presente em tempos de vida sedentária diante das telas e da pouca mobilidade, oferecendo um bom antídoto contra tudo isso. Bem ilustrado e em sua apenas aparente inocência de uma história infantil, nos traz muitas lições que podem nos inspirar e muito em nossas vidas de equilibristas.
Na primeira página já me seduziu. “Muitas aventuras acontecem quando eu vou a pé”, é assim que as autoras nos cutucam a pensar em como podemos trazer esse saudável hábito à rotina cotidiana com nossas crianças. Ir à escola, à padaria, ao parque ou uma simples volta no quarteirão proporcionam um pouco de tudo. Explorar os altos e baixos das calçadas, olhar para folhas em cima das árvores e as caídas no chão, acompanhar o ritmo dos passos, mais lentos ou mais acelerados, sentir cheiros bons e outros nem tanto, dar bom dia aos porteiros e transeuntes, olhar para o céu e sentir o ventinho no rosto e até os pingos da chuva. Que criança não gosta de tomar banho de chuva e chegar ensopado em casa com cara de travessura? Sem falar no puro prazer de andar. Em francês há uma linda palavra para isso, flâneur, o simples ato de andar pelas ruas, sem rumo, sem intenção. O filósofo Walter Benjamin chamou o flâneur de “pedestre com nariz de detetive” e Charles Baudelaire como o “espectador apaixonado”.
A verdade é que ter esse momento de explorarmos o mundo com nossos filhos pelas ruas da cidade é de um prazer ímpar. Luísa e Sossô, sua filha de 5 anos, vagam pelas ruas praticando o flâneur, assim como vejo sempre nas redes sociais, a Júlia e a Nicole, andarilhas habitués da cidade de São Paulo.

Podemos nos defender, dizendo que as grandes metrópoles são perigosas, mas mesmo assim, o benefício é imensamente maior. Uma volta no quarteirão com nossos filhos abre um momento inigualável de nossas relações com eles, sem custar nada além da sola de nossos sapatos. Tenho cada vez mais me convertido a andar, adoro ver os meus passos contabilizados ao final do dia no meu Apple Watch e me sinto extremamente feliz de ver que, mais do que tantos mil passos, há uma contagem intangível que não é medida. Uma sensação de vitória, de aprendizado, de ter aberto um espaço fora das telas, fora da academia, fora de casa ou da mesa do escritório. Andando aprendo, conheço, respiro, conecto e me desconecto. Andar me desestressa, me anima, me traz paz. Quanto mais intensa a vida de equilibrista, mais me motivo a andar na busca do meu equilíbrio.
Que possamos ensinar nossos filhos a andar, começando dos primeiros passos, mas indo muito além deles. Que saibamos mostrar a eles que na correria do dia a dia, há espaço para contemplar pequenas coisas, que podem estar a apenas um passo de distância, logo ali na porta de casa. Não precisa de energia elétrica, apenas energia interna. A decisão está em nossos pés. Eu vou a pé. Vamos juntos?