A criança de 3 anos pergunta ao pai:
– O que é namorar?
O pai se descontrola e diz em tom rude:
– Nunca mais diga isso! Os namorados são monstros! Repita comigo: “Namorar é feio. Eu nunca vou namorar.“
Tenho visto cenas semelhantes com certa frequência, em tom de brincadeira ou não. Independente da forma, alertemo-nos: elas marcam as crianças.
Tentemos analisar pela cabeça da pequena. O pai diz que os namorados são monstros e ele é namorado da mãe. Que namorar é feio, mas seus pais namoram. Sem ter consciência, a criança pode guardar em suas memórias a perigosa e contraditória informação e o que ela a fez sentir: o pai é um monstro. Namorar é feio. Nunca vou namorar.
Já pensou quantas sessões de terapia ou análise para resolver esta bronca (in)consciente?
Se pensarmos que a maioria dos processos terapêuticos do adulto voltam à infância é porque nesta fase algo de muito importante acontece, não é? Sim, nesta fase configura-se a base. E, por conta do desenvolvimento neurológico, a criança é muito emocional, o que a ajuda a marcar e a guardar as informações, uma vez que a emoção é a cola da memória.
Além disso, a criança tem bem mais neurônios que os adultos, o que a permite muito mais conexões, que são importantes para aprender e consolidar as memórias. Isto explica o porquê a criança pode aprender tanto! Todavia, ela o faz sem freios, sem filtros, sem limitações e com muitas imitações, também por conta do seu desenvolvimento.
Por isso, mesmo se for brincadeira devemos cuidar, com esta e com tantas mensagens que emitimos às crianças. Pois, marcam e para quem fez ou faz terapia, sabe que não são tão fáceis de serem acessadas e corrigidas uma vez que foram guardadas muito mais pela emoção do que pela razão.
Assim, cuidemos da saúde emocional da criança e com as lembranças que guardarão. Gosto de me perguntar: será esta a mensagem que quero que minhas filhas guardem e vivam?
E uma dica que não falha: quando a criança perguntar algo, responda com a pergunta dela. Pois se ela pergunta é porque isto já está a sondando. E é bom entender o que se passa na cabeça dela e a melhor maneira não é respondendo e sim dialogando.
Cuide, pois às vezes adiantamos assunto que nem era o caso. Vou falar disso na próxima coluna. Até lá!
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