
O momento do parto é sempre único e especial para uma mãe, seja ele como for: por via natural ou cesárea. Com o passar dos anos e a evolução nos procedimentos, a importância de um parto humanizado para um nascimento saudável se tornou cada vez mais relevante na hora de decidir a melhor forma de ter o bebê.
Na tentativa de tornar esse momento mais respeitoso para mãe e filho, uma prática conhecida como cesariana MAC (sigla em inglês de maternal-assisted caesarean), ou cesariana assistida pela mãe, acendeu um alerta nos especialista. O procedimento é feito durante o parto cesárea, e é a mulher quem ajuda os médicos a retirar o bebê de dentro do próprio útero – tudo isso enquanto ela está com parte do corpo anestesiada e somente os braços livres.
A Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), emitiu um comunicado oficial no qual faz um alerta quanto ao uso desse tipo de cesariana e repudia a técnica. “Esse é um procedimento sem evidências significativas de sua segurança. Não encontra amparo em protocolos, recomendações ou estudos bem desenhados”, diz o documento.

Para o Dr. Igor Padovesi, ginecologista e obstetra, pai de Beatriz, Guilherme e Cecília, a prática pode ser considerada uma tendência passageira. “Não é indicada pela Febrasgo, nem por nenhuma sociedade médica e por nenhum médico. Isso é um modismo, uma invenção que as sociedades médicas consideram inadequada pelo risco, principalmente, de contaminação, infecção e de sangramento excessivo”, disse ele, que recebeu orientações expressas da maternidade onde atua, quanto a proibição deste tipo de parto por não haver “evidências científicas de que tal prática seja segura para a gestante”.
Riscos da cesariana MAC
Pelo parto cesárea se tratar de uma cirurgia, não se pode descartar a existência de risco. Porém, o que precisa ser destacado é que na MAC tais ocorrências podem fazer os perigos serem ainda maiores. Isso porque a participação de uma pessoa que desconhece as técnicas médicas pode ter graves consequências, aumentando alguns problemas citados pela Febrasgo, como:
- Infecções;
- Tempo cirúrgico aumentado;
- Perda de sangue;
- Aumento das incisões;
- Lesões em outros órgãos;
- Atraso na avaliação e assistência neonatal;
- Maior consumo de material e aumento do custo do procedimento.
Justamente por isso, a Dra. Juliana Sá, ginecologista e obstetra, mãe de Theo e Lia, explica a não recomendação da técnica experimental, tendo em vista os riscos apresentados. “Quando uma nova técnica é proposta e oferecida em larga escala, é preciso que tenhamos estudos com resultados positivos, que atestem tanto a segurança de tal prática como resultados positivos dela em comparação as técnicas já bem estabelecidas”, pontuou ela.
“Pode ser que num futuro, se estudos bem desenhados e bem conduzidos forem realizados e emitirem resultados favoráveis, possamos mudar estas recomendações. Porém, ainda não estamos neste momento”, enfatizou.
É possível humanizar a cesárea sem correr riscos?
A resposta é sim! Expor mãe e filho ao risco utilizando a cesárea MAC não é recomendado por especialista e órgãos de saúde justamente por existir outros caminhos mais seguros para deixar o parto humanizado, entendendo os limites e desejos da mulher, sem desrespeitar as normas para proteção da saúde de ambos.
Proporcionar um nascimento respeitoso e um parto saudável para ambos não precisa ter a ver com a mãe “intervir” no campo cirúrgico para ser a primeira a segurar o recém-nascido. “Quando falamos em humanização do nascimento, temos como princípios um parto centrado na mulher, no qual haja respeito à sua autonomia e protagonismo, além de evitar intervenções desnecessárias e pautar as práticas na medicina baseada em evidências”, explica a Dra. Juliana.

Os especialistas ressaltam algumas práticas simples que podem tornar esse momento ainda mais especial e, claro, seguro, adotando essas medidas:
- Usar menos luzes na sala;
- Tirar o foco cirúrgico da rosto do bebê quando vai nascer, pois ele vem de um ambiente escuro;
- Colocar música ambiente;
- Permitir que o pai fique com a mulher e com o bebê até o final;
- Falar baixo e evitar assuntos triviais, que nada têm a ver com o nascimento daquele bebê;
- Promover a amamentação na primeira hora (deixar o bebê no colo da mãe enquanto a cirurgia acaba);
- Não sedar a mulher desnecessariamente;
- Informar a mulher sobre as condutas (o que será feito e o motivo) e deixá-la participar das decisões sempre que possível.
Além disso, a preparação para um parto ser mais respeitoso, independente da via de nascimento escolhida pela mãe, começa muito antes. “A grande problemática desta situação é, num país campeão de cesarianas e com tanta desinformação, vender uma cesárea mais ‘bonitinha’ em vez de educar as gestantes para que elas façam sua escolha verdadeiramente informadas”, opinou a ginecologista obstetra.
Entender que a cesariana é uma via de parto que possui protocolos de segurança rígidos para assegurar um nascimento saudável e, ao mesmo tempo, humanizado, pode te ajudar a passar por esse momento com mais leveza. Informar-se junto ao obstetra que acompanha a gestação também é fundamental, pois ele pode ajudá-la na escolha do melhor tipo de parto possível desde a descoberta da gravidez.