Você sabia que aquela volta ao sol que parece só relaxante pode ser, na verdade, uma aliada contra uma das doenças neurológicas mais desafiadoras? Uma nova pesquisa revelou que a vitamina D, produzida naturalmente pelo corpo com a ajuda da luz solar, pode ter um papel importante no controle da Esclerose Múltipla.
Sim, é isso mesmo. Aquele “solzinho” de fim de tarde pode ser um verdadeiro aliado contra essa condição, segundo um estudo conduzido por pesquisadores franceses. A vitamina D que, além de reforçar ossos e imunidade, agora mostra potencial para ajudar a desacelerar a progressão da doença e trazer mais qualidade de vida para quem convive com o diagnóstico.
O que é a esclerose múltipla e por que ela assusta tanto?
A esclerose múltipla é uma doença autoimune — ou seja, quando o próprio sistema de defesa do corpo começa a atacar, por engano, estruturas saudáveis e importantes do organismo. No caso da EM, o alvo é a bainha de mielina, uma espécie de “capa protetora” que protege os neurônios. Quando essa proteção falha, os sinais não são transmitidos para o cérebro corretamente, o que pode causar desde formigamentos e visão embaçada até problemas motores e cognitivos mais sérios.
“Trata-se de uma doença imprevisível, com surtos intermitentes e fases de remissão, que pode evoluir de forma silenciosa e causar impactos significativos na qualidade de vida”, explica o médico Ronan Araujo.
Por que a vitamina D é tão especial nesse contexto?
Quando falamos em vitamina D, muitos logo pensam no uso apenas para deixar os ossos mais fortes ou melhorar a imunidade, certo? Mas esse nutriente é um verdadeiro multitarefas. Ele também regula hormônios, ajuda no controle neuromuscular e — aqui está o ponto-chave — modula o sistema imunológico. Ou seja, ela ajuda o corpo a não reagir de forma exagerada, o que é justamente o que acontece em doenças autoimunes como a EM.
Nosso corpo consegue produzir essa vitamina naturalmente, mas, para isso, precisa de exposição solar — algo que tem se tornado cada vez mais raro entre adultos e crianças, com a rotina em ambientes fechados e falta de contato com o ar livre.
O que diz o novo estudo francês?
Ao suplementar pacientes com EM com doses controladas de vitamina D, os pesquisadores observaram uma redução significativa na atividade inflamatória da doença. Houve menos surtos, desaceleração no avanço dos sintomas e, o mais importante, uma melhora geral na qualidade de vida dessas pessoas.
A pesquisa reforça o que outros estudos já vinham apontando: níveis baixos de vitamina D estão associados a maior risco de desenvolver doenças autoimunes — e, quando corrigidos, podem até ajudar no tratamento.

Como exatamente a vitamina D age na esclerose múltipla?
A vitamina D atua como um regulador do sistema imunológico. Ela funciona como um tipo de “freio” que evita reações inflamatórias excessivas, o que, na prática, significa menos ataques do sistema imune ao próprio corpo.
Além disso, estudos indicam que a vitamina D contribui para manter as conexões dos neurônios mais saudáveis, promove regeneração celular e reduz a produção das temidas citocinas inflamatórias — as substâncias que desencadeiam os surtos.
Sol é remédio? Sim, mas com moderação e acompanhamento
É aí que entra o alerta importante: não é porque o sol faz bem que vale exagerar ou sair tomando suplementos por conta própria. “Embora a vitamina D seja produzida naturalmente pelo corpo, o uso terapêutico em pacientes com esclerose múltipla não deve ser feito sem supervisão médica”, alerta o Dr. Ronan Araujo.
Segundo ele, em casos clínicos, as doses utilizadas são altas e requerem exames e acompanhamento constante. O excesso da vitamina também pode trazer problemas sérios, como sobrecarga nos rins e intoxicação.
“Cada paciente é único. Por isso, fazemos exames laboratoriais para avaliar os níveis de vitamina D e, a partir disso, traçamos uma estratégia segura de suplementação”, completa o médico.
Um novo olhar sobre a saúde
A ciência está cada vez mais caminhando para um olhar integrativo sobre a saúde: não basta tratar sintomas, é preciso entender o que está por trás das doenças. A esclerose múltipla ainda não tem cura, mas hoje sabemos que é possível controlar os surtos e melhorar muito a qualidade de vida de quem convive com ela.
Para o Dr. Ronan Araujo, nem sempre a solução está em algo novo ou sofisticado. Muitas vezes, está em devolver ao corpo o equilíbrio que ele vem pedindo em silêncio. A vitamina D pode ser esse primeiro passo.