Você já ouviu falar em hemofilia? A condição pode até ser rara, mas merece atenção — principalmente durante o Mês Mundial da Hemofilia, que acontece em abril. Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 14 mil pessoas vivem com a doença no Brasil, e a maioria precisa de cuidados constantes para garantir qualidade de vida e evitar complicações.
A hemofilia é uma condição hereditária em que o sangue não consegue coagular da forma correta. O resultado? Sangramentos mais longos e frequentes, tanto externos quanto internos — e sim, isso pode ser perigoso. Para ajudar a descomplicar o assunto, conversamos com a Dra. Francine Doty Campoy, médica hematologista e pediatra do HEMOSC Blumenau, que esclareceu os principais mitos sobre a doença.
Não é só um “machucadinho“
Um dos maiores mitos sobre a hemofilia é pensar que ela provoca apenas sangramentos visíveis, como os de cortes ou arranhões. “Além das lesões externas, que são mais fáceis de perceber, também podem acontecer sangramentos internos, como hematomas nos músculos e nas articulações, que causam dor e podem deixar sequelas”, explica a especialista.
Esses sangramentos “escondidos” são perigosos e, em alguns casos, podem até acontecer dentro do crânio ou na região abdominal, o que representa risco de vida.
Só afeta homens? Nem sempre
A hemofilia é, de fato, mais comum em pessoas do sexo masculino, por estar ligada ao cromossomo X. Mas isso não quer dizer que mulheres estão totalmente livres da condição. “Em casos mais raros, como quando há mutações genéticas específicas ou quando ambos os pais têm histórico da doença, mulheres também podem apresentar a hemofilia”, explica a Dra. Francine.
Atividade física pode sim!
Com o tratamento adequado, pessoas com hemofilia não precisam viver em uma bolha. É possível sim fazer atividades físicas, desde que elas sejam seguras e de baixo impacto. Caminhadas, natação e pilates, por exemplo, são ótimas opções.
E o progresso da ciência na condição pode ir além: “Com os avanços em terapias preventivas, uma nova realidade se aproxima, com pacientes podendo até praticar esportes mais intensos com segurança”, diz a médica.

Hemofilia A e B: tem diferença?
Tem sim. A hemofilia A acontece quando falta o fator VIII, e a B quando falta o fator IX. Os dois são proteínas que ajudam o sangue a coagular, ou seja, a estancar um sangramento. Se um deles não funciona direito, o corpo demora mais para formar o coágulo.
Além disso, algumas pessoas podem desenvolver os chamados inibidores, que são anticorpos que atrapalham o efeito do tratamento. “Existem exames específicos para identificar esses inibidores e definir o melhor plano de tratamento”, explica a hematologista Dra. Francine. Quando isso acontece, os cuidados precisam ser ainda mais individualizados.
Expectativa de vida é normal
Mito derrubado! Com os tratamentos de hoje, muitas pessoas com hemofilia vivem tão bem quanto quem não tem a condição. “É cada vez mais comum encontrarmos pacientes com mais de 70 anos em acompanhamento nos hemocentros”, destaca a especialista.
Dá pra tratar em casa
Antigamente, o tratamento da hemofilia exigia idas frequentes ao hospital. Mas hoje a realidade é outra: o tratamento preventivo, chamado de profilaxia, pode ser feito em casa mesmo, com treinamento das equipes de enfermagem para as famílias.
E olha só: em cerca de 30% dos casos, a hemofilia surge em pessoas sem histórico familiar da condição. Por isso, saber reconhecer os sinais é essencial. Fique de olho em sangramentos que demoram a parar, hematomas frequentes ou grandes demais, e inchaço nas articulações sem motivo claro. Diagnóstico precoce faz toda a diferença.