Vanessa Priolli Rodrigues Kell sempre sonhou em ser mãe. Ela passou muitos anos tentando engravidar e acabou optando por uma fertilização in vitro, que gerou sua filha mais velha, Alice, hoje com 4 anos. Três anos depois do nascimento de Alice, uma surpresa para Vanessa e seu marido, Allan: ela estava grávida de três crianças. Trigêmeos concebidos da forma tradicional, espontaneamente.
Logo, o casal descobriu que esperavam duas meninas e um menino. As duas meninas dividiam uma única placenta, eram gêmeas idênticas, enquanto o menino estava em uma placenta separada. O que aconteceu entre as meninas foi um fenômeno mais comum do que a gente imagina em caso de gestação de gêmeos idênticos: uma transfusão feto-fetal.
Quando os gêmeos dividem a mesma placenta existe a possibilidade de alguns vasinhos dos fetos estabelecerem conexões e eles acabam roubando sangue um do outro. “Imagine uma área delimitada de terra e duas árvores próximas que emitem raízes para chegar ao solo, essas raízes irão tirar do solo o que precisa, mas aí imagina as raízes se conectando e pegando parte do nutriente da outra. É isso o que acontece algumas vezes com os gêmeos idênticos”, diz Silvia Herrera, Gerente da Medicina Fetal do SalomãoZoppi Diagnósticos e a médica que acompanhou de perto o caso de Vanessa.
Quando irmãos gêmeos estabelecem esse tipo de conexão, ela precisa ser interrompida para tentar salvar a vida dos bebês e evitar sequelas. Essa cirurgia é bastante delicada e é feita a laser, com pequenas incisões na barriga da mãe. Vanessa teve que passar pelo procedimento não uma, mas três vezes, porque as duas meninas refaziam as conexões. “Os médicos me disseram que iam tentar salvar os três, mas alertaram que uma das duas poderia não sobreviver”, conta Vanessa. “Minha escolha era ficar com uma ou arriscar perder os três”.
“Uma das meninas estava perdendo sangue para a outra, já estava muito pequena e a cirurgia precisava ser feita”, conta a médica. A menina que estava doando sangue não sobreviveu, mas, se a cirurgia não fosse realizada, as duas poderiam ter morrido ou aquela que sobrevivesse ficaria com sequelas. “As gestações gemelares precisam de um pré-natal mais cauteloso. Nós fizemos ultrassons toda semana em Vanessa e tudo o que deveria ser feito não podia esperar até amanhã”, conta Silvia.
Vanessa relata ainda que sentiu muitos desconfortos durante a gravidez. “Foi inteira angustiante. Uma semana eu saía rindo do consultório, na outra, saía chorando. As cirurgias aconteceram uma atrás da outra, não tiveram nem um mês de diferença”. Laura e Eduardo nasceram de sete meses e passaram 40 dias na incubadora da UTI neonatal. “Eles nasceram com menos de 1,5 kg, muito pequeninhos”, diz Vanessa.Seu marido, Allan, que é personal trainer, esteva o tempo todo ao seu lado e os dois sempre esperaram que acontecesse o melhor. Laura e Eduardo nasceram no dia da abertura da Copa do Mundo no Brasil, 12 de junho, e desde então estão saudáveis, ao lado da irmã mais velha, Alice.
“Essa síndrome é grave e urgente. Por isso, se há sinais, as conexões entre os fetos precisam ser separadas, para tentar equilibrar esse fluxo ou ao menos salvar o bebê grande, caso o pequeno não resista”, explica a médica. Existem também alguns sintomas que o corpo da mãe emite e ajudam a perceber se existem alterações nos bebês: aumento súbito no abdômen, dor abdominal e dificuldade de respirar, causada pela compressão do pulmão.
A transfusão feto-fetal também pode desencadear um parto prematuro. Os exames de ultrassom são essenciais para que o médico saiba se os bebês compartilham a mesma placenta e encaminhe a paciente para os procedimentos adequados.