Pesquisadores da Ohio State University, nos Estados Unidos, recém publicaram uma pesquisa junto a pouco mais de 1.000 pais americanos com filhos menores de 18 anos, que gerou uma matéria no Estadão do dia 2 de junho. Entre alguns dados interessantes, dois saltam aos olhos. O primeiro mostra um sentimento de solidão relatado por 66% dos pais. O outro fala do esgotamento físico e mental, queixa identificada em 62% das respostas.
Embora solidão e esgotamento não necessariamente se relacionam entre si, vejo que, no caso de pais, esses percentuais bem próximos mostram que há, sim, uma relação entre eles. Ou seja, situações vividas por esses pais que simultaneamente geram solidão e esgotamento ou até um levando ao outro.
Aliás, o tema da vida de equilibrista, o gerenciamento dos múltiplos pratinhos de nossas vidas, é motivo de estudos que faço desde 2007, junto a mães brasileiras. Especificamente sobre a percepção do esgotamento, minhas pesquisas também mostram uma clara tendência de crescimento da exaustão. A concordância com a frase “acho minha rotina muito sobrecarregada” já era alta em 2007, com 70% , e cresce ainda mais em 2019, para 79%.
Uma outra pesquisa, essa entre mães inglesas, detectou que as mulheres entre 25 e 34 anos sofrem mais com o estresse. Nessa faixa etária, os motivos apontados são: conciliar carreira, cuidar de filhos e ainda se preocupar com o futuro, o que inclui pagar, por exemplo, a prestação de um imóvel. Em geral, 67% das mulheres se sentem pressionadas por algum desses fatores; 43% declaram perder o sono, 41% atacam guloseimas e 21% admitem consumir bebidas alcóolicas. Os números podem até ser diferentes no Brasil, mas sinto que as responsabilidades e essa sensação estressante são universais. Ou seja, tudo indica que americanas, inglesas e brasileiras estão na mesma página.
Sobre o esgotamento e suas razões, já há boas e ricas discussões e análises. Sabemos que o acúmulo de tarefas, a falta de rede de apoio, a dificuldade de conciliar carreira e família, as poucas horas de sono e as preocupações inerentes à paternidade/maternidade explicam em boa parte tal exaustão. Mas o que me intriga e vi poucas reflexões sobre isso nas pesquisas divulgadas é: o que provoca tamanha solidão nos pais?
Atrevo-me a pensar em fatores que podem desencadear esse sentimento de solidão. Para começar, vejo a falta de uma rede de apoio consistente, ou seja, a existência de pessoas de forma regular com quem se possa dividir a responsabilidade da paternidade. É o velho provérbio que, com clareza, nos ensina: “quem pariu Mateus que o embale”. Os pais, assim, ficam isolados na missão de serem eles os responsáveis únicos pelos filhos.
E por falar em responsabilidade, é com o nascimento dos filhos que temos a dimensão do tamanho da missão que é criá-los. Vê-se claramente o sentimento de solidão que se agudiza com a chegada dos pequenos. Ao sair da maternidade carregando aquele pacotinho em nossos braços para o retorno à casa, temos a noção exata dessa missão. “Agora é com a gente e mais ninguém” é o que passa em nossas cabeças nesse momento. Pois é, mais uma vez, depende só de nós “embalar o Mateus”.
Como se tudo isso não bastasse, ainda temos um natural afastamento da vida social, pelo menos, por um tempo. A vida, que era intensa antes dos filhos e com muitas trocas com outras pessoas, fica mais reclusa e restrita ao núcleo familiar. Mais um motivo de solidão, mesmo que seja temporária. Pois é, mesmo que outro provérbio afirme que “é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”, no dia a dia, sobra mesmo é para os pais embalarem e cuidarem do Matheus….
